30.8.08

Hoje vou postar mais um conto "humorótico" rabiscado nos intervalos do não fazer nada que é minha vida. INESPERADA AVENTURA Todo dia, após o almoço, ele sentava-se na frente da obra, encostado no tapume. Era um hábito de há muito cultivado. Depois desse pequeno descanso, a parte da tarde se tornava fácil de ser enfrentada, o trabalho parecia render mais e, aos olhos do chefe, essa produtividade era sempre notada e apreciada. De uns tempos para cá ele notara que sempre no mesmo horário, passava em frente à obra uma mulher que insistia em olhar para o seu lado e dar um sorriso. Todos sabiam que em matéria de mulher ele não perdia pra quase ninguém. Seus ombros largos, seus músculos, desenvolvidos na lida do dia-a-dia, sua pele morena e curtida pelo sol de vários verões, eram, sem duvidas, atrativos, mais que suficientes para sua vitoriosa carreira de D.Juan das redondezas. Ele usava e abusava dessas qualidades e, toda vez que jogava sua rede, puxava uma garota para seus braços. Voltemos ao desenrolar desta estória, interrompido pára descrever o porte físico de seu protagonista. Ele pressentiu a bola que essa mulher dava e se prometeu que nos próximos dias iria prestar mais atenção na dama. No dia seguinte, depois do salutar almoço, sentou-se no lugar de sempre e esperou, fazendo um esforço tremendo para não cochilar. Passados poucos minutos de espera eis que no inicio do quarteirão ela surge toda sestrosa. Percebe que ele está no lugar de sempre, dá uma paradinha, suspende um pouco mais a saia que quase fica mini-mini, dá uma alisada, com as mãos, nos cabelos que já estavam soltos e reinicia sua caminhada, forçando, ao máximo, o balanço ritmado de suas ancas, marcado pelo toc-toc dos saltos de seus sapatos na calçada. Ele que não era marinheiro de primeira viagem, se fez de bobo e esperou que ela passasse, sem levantar o olhar. Ela foi se aproximando, rebolando como se quisesse quebrar seu corpo ao meio. Passou, deu uma olhada bastante sensual para aquele seu paquera, espargiu um perfume forte por sobre o ar e continuou sua caminhada, sabe-se lá para onde. Ele não teve mais duvidas, a oferta era mesmo para ele e muito insinuante. Começou, então a fase de avaliação do que realmente tinha buscado perceber na mulher. Rosto, não tinha qualquer traço mais marcante de beleza, era comum, um tanto ovalado, sem qualquer ponto de maior significância, mas agradável ao olhar. Corpo era mais pra gordo do que pra magro, tinha carnes (será que tinha banhas caídas?), não tinha conseguido identificar esse detalhe, estava mais para alta do que para baixa; Seios, ao que pudera perceber e se não estivessem amparados por esses novos sutiãs “ëngana otário” ou “propaganda enganosa”, pareciam grandes e suculentos; Bunda; estava, mais para nadadora profissional “nada de bunda” mas também não se pode querer tudo numa só espécime feminina, se bem que bunda é uma paixão nacional... Pernas, o que conseguira ver, ou melhor, tudo que a mini saia mostrara, eram pernas de coxas grossas e canelas finas, demonstrando que a dona era passível de uma boa transa; Cabelos, castanhos, médios, crespos e um tanto quanto brilhantes, dando a parecer que tinha sido cuidados com uma aplicação de babosa “in natura”. Enfim, era uma mulher comum, sem um atrativo maior que pudesse lhe fazer a cabeça e o fizesse desejar uma investida. Levantou-se, depois dessa conclusão, e voltou ao trabalho, mas, não sabia por que cargas d’água, a mulherzinha, volta e meia, vinha povoar suas idéias. No final do expediente, sem mais delongas, banhou-se, trocou-se e foi embora. No dia seguinte, novamente lá estava a fulaninha, fazendo o mesmo trajeto, com as mesmas artimanhas, o mesmo rebolado, o mesmo forte e enjoativo perfume. O fato continuou acontecendo, diariamente, por diversos dias. Ele, no seu posto de observação, não conseguia achar um ponto sequer, que justificasse uma abordagem direta e definitiva. Lá, com seus botões, se perguntava se estava boiolando, ou o que estava realmente acontecendo, nunca fora tão exigente assim. Um dia, ela, fazendo o mesmo e inconseqüente trajeto, tomou a iniciativa e, sem pensar duas vezes, estancou na sua frente e, com sua voz, esganiçada, lhe perguntou: - E aí meu rei? Até quando esse macho vai tirar férias? Ou será que meus sentidos me enganaram a seu respeito? Ele, meio surpreso, meio abestalhado, diante de tanta ousadia, e ainda, enraivecido pela audácia da figura, respondeu: - Que nada morena, nos dias de semana eu me volto só pro trabalho, não dá para pensar em vadiagem – e não querendo dar-se por vencido complementou: - Mas se a gata quiser, no sábado estamos aí. Ela, feliz por ter atingido o seu intento, concordou: - Se é assim eu topo, sábado te espero lá em casa. Tirando de dentro dos seios, ou melhor, de dentro do sutiã, uma papeleta meio amassada lhe entregou dizendo: -Esse é meu endereço, meu nome é Celestina, mais conhecida por Celeste, te espero sábado lá pelas 9 horas da noite. Qual é seu nome? Ele, apanhando a papeleta, disse: Marivaldo, e pode esperar que eu vou. Me espera perfumadinha. Sem mais nada para falar, ela seguiu seu caminho, com o mesmo rebolado dos outros dias. Ele, ainda aparvalhado, tentava se conformar pensando, tudo pela minha dignidade de macho. Vou, tomo uns “birinaites”, mastigo uns tira-gostos, dou umas “pimbadas” e pronto, posso marcar mais uma “mina” abatida no meu caderninho de recordações. Percebeu, então que era uma quinta-feira, e que o horário do almoço estava por terminar. Levantou-se, abraçou o “batente” e não pensou mais no assunto. No dia seguinte, depois de almoçar, sentou-se como de costume, prometendo para si mesmo que se por acaso ela viesse a passar novamente, não iria tentar mais nenhuma analise. Ia deixar o tempo correr e aproveitar a transa do sábado. Ela apareceu, da mesma forma que nos dias anteriores, e ao passar por ele deu-lhe uma olhada, um sorriso e murmurou: - Estou te esperando moreno. Não vaio mancar hein? Ele envaidecido sentiu a massagem no ego, e gostou. Eis que chega o sábado, na hora combinada ele bateu à porta da casa dela, foi atendido e aceitou o convite para entrar. Entrou, e foi logo abusando e dando nela um tremendo beijo. Suas línguas se entrelaçaram por várias e várias vezes. Ele percebeu que seu membro dava sinais de vida e avolumava-se por dentro da cueca samba-canção que estava sendo estreada para aquela ocasião. Ela, voltando um pouco para realidade, ofereceu uma cervejinha para quebrar o gelo e uns salgadinhos para acompanhamento. E nesse lengalenga foram se beijando, se apalpando, se tocando. Ele num carinho mais audacioso colocou sua mão por dentro de suas pernas e percebeu a calcinha dela já estava bastante molhada depois de todos aqueles amassos. Ela apertou suas pernas como se uma tesoura fossem e, a mão dele ficou presa naquela forquilha natural. Ele forçou um pouco, desobstrui a prisão de sua mão e com todo o calor da ocasião começou a tirar sua calcinha. Ela tremula de desejos, ajuda-o nessa tarefa, ou mais, começa a tirar todas as suas roupas e as dele também. Nus, completamente embalados por caricias sensuais, ela tem o seu primeiro orgasmo. Geme, grita e balbucia palavras desconexas. Ele, vendo todo aquela demonstração de prazer, tem um pequeno lapso de continuidade do ato e pensa, meu Deus, este cheiro de perfume barato está acabando comigo, mal acabou de pensar deu um salto e correu para o banheiro, onde sem mais reter, vomitou golfadas de bile, tão amarga quanto pudesse permitir sua sensibilidade papilar. Terminado o acesso de vomito, voltou para o quarto, mas qual, aquele membro viril, que ater minutos antes estava parecendo um aríete, pronto a invadir aquela cavidade totalmente lubrificada, agora era apenas um pequeno penduricalho, tão mole e acabrunhado que mais parecia um pedacinho de lingüiça que sobrara de uma churrascada. Ela ainda tentou reanima-lo, mas nada. A única coisa que conseguiu foi fazê-lo ter mais dois acessos de vomito. Então, suando frio, totalmente abatido, com a boca amarga e áspera, ele vestiu suas roupas e depois de totalmente vestido, ouviu-se dizendo com voz embargada: Desculpe, foi a primeira vez que isso me aconteceu... Abriu a porta e escafedeu-se noite adentro. Fim de uma noite de sábado na vida daquele trabalhador, fim de uma noitada que se prenunciava avassaladora...Fim de uma inesperada aventura. Domingo ele não saiu de casa para nada, sentia tremenda dor de cabeça, o bandido daquele perfume fedido tinha lhe posto no chão, acabado com sua trepada e, não satisfeito, atacado de maneira total o seu pobre fígado. Estava de mau-humor desde cedo, levantara com um tremendo gosto amargo na boca e não tinha doce para acalmar aquele amargor. Reclamou com sua mãe e ela, toda solicita, preparou-lhe um chá de boldo. Foi o fim do Domingo, tinha tomado o chá bem rápido para não sentir o gosto e quase não teve tempo de chegar ao banheiro, soltou o chá, o fígado, as tripas e tudo mais que podia. Quase morreu! Depois de um novo banho, deitou-se e dormiu. Segunda-feira levantou-se cedo, ainda meio indisposto, pega seus apetrechos e foi para obra. O ar matinal ajudou-lhe a recuperar um pouco as forças. Trabalhou sem pensar em nada ate que ouviu soar o sino para o almoço. Estava ainda enjoado, abriu a marmita e viu que a sua santa mãezinha tinha pensado nele com carinho, nada de comidas pesadas, o almoço estava composto de arroz branco, um pedaço de peito de frango ensopado com algumas batatas e uma saladinha de alface. Comeu tudo. Também pudera, não havia comido ou segurado no estomago, alimento sólido desde sábado no almoço. Finda a refeição, fechou e guardou a marmita, e automaticamente, foi sentar-se no seu local habitual. Acomodado, decidiu tirar uma soneca, mas um som, já perfeitamente reconhecível se fez ouvir. Virou-se para o lado de onde vinha o som e se deparou com a motivadora do seu péssimo final de semana. Ela, olhando fixamente para ele, foi se aproximando, ele sentiu o mesmo perfume encorpando-se ao ar fazendo seu fígado iniciar um movimento de protesto. Ela, finalmente chegou bem perto dele e com um olhar indignado, colocou a mão esquerda na cintura, em posição de asa de chávena, levantou o braço direito, onde o dedo indicador, totalmente esticado, ajudava a prolongá-lo e, com suas voz mais esganiçada ainda, esbravejou: “OIA AQUI Ô MORENO, NUM BASTA TÊ POSI DI GALÃ, MUSCUS DE ATRETA E NÃO DA NU CORO CÁS MUIÉ. OCÊ NUM PASSA DUM FROXO DI PINTO MOLE, QUI NUM SABE NEM BEBE. Virou-se nos saltos e foi-se embora bufando. Ele olhou para os lados, viu que todos os camaradas o olhavam admirados, baixou a cabeça, se encolheu mais dó que seu pênis naquela fatídica noite de sábado e só teve forças para murmurar: “Que merda! Ô fim de semana mais fio da puta”! E sem mais o que fazer, voltou para o batente decidido a esperar um outro fim de semana.

27.8.08

Já que me foi dada a missão, vamos tratar de completa-la logo e ficar livre da tarefa. DESCREVA-SE Sou um homem já vivido, mas que tenta, de todas as formas, surpreender a ordem natural da das coisas e continuar vivendo como se ainda jovem fosse. Garanto que a minha cuca ainda é jovem. Tenho, apenas, alguns surtos memoriais que me levam ao passado e me trazem gostos doces e amargos de antanho. Sou social e sofro por ter que viver solitário, sem companhias, mas quando a oportunidade de uma companheira aparece, fujo amedrontado com a idéia de dividir o espaço da minha solidão. Gosto de escrever, ou melhor, de rabiscar, são rabiscos rimados ou proseados, sem qualquer valor literário, mas que agradam ao “enorme publico” que os lêem. Amo a vida e reverencio a morte. Sou humano! O QUE AS PESOAS ACHAM DE VOCÊ. Parece que me consideram. Não sei e prefiro não avançar nesse conhecimento. O mais importante é o que eu acho de cada uma das pessoas com quem me relaciono. DESCREVA O ATUAL RELACIONAMENTO É lindo, maravilhoso, incomparável, fantástico, mas só existe nos meus sonhos e nos rabiscos por mim criados. DESCREVA A ULTIMA RELAÇÃO Foi uma relação de 34 anos. Linda e terna enquanto existiu, triste e sombria depois de esgotada. Deixou frutos, filhos e netos maravilhosos. Deixou também o vazio. ONDE QUERIA ESTAR AGORA Nos braços de alguém muito amado, beijando e sendo beijado e, depois...O resto não declaro por ser impróprio a menores de 70 anos. O QUE VOCÊ PENSA SOBRE O AMOR É a chave que nos leva. Seres humanos, aos maiores enlevos da vida. É fogo que arde na pira dos prazeres. É lagrima que se acumula nos mares da desilusão. COMO É SUA VIDA Já foi brasa, hoje amornada pelo tempo é uma corrida sem volta. É a luta pela sobrevivência. É o prazer de ter amigos virtuais. É o tudo e o nada. SE TIVESSE DIREITO A APENAS UM DESEJO Desejaria renascer com a minha idade e ir retroagindo com toda a vivencia adquirida até chegar ao meu estágio de feto. Então sumir! UMA FRASE SÁBIA Da vida nada se leva, se não a vida que a gente leva! UMA FRASE PARA OS PROXIMOS Queiram-me bem. Não custa nada! INDICAÇÕES Nomeio para essa tarefa: ZECA, ANA LUCIA, JACINTA, DIRA, KARINE LEÃO e BETI TIMN. Crianças, mãos à obra e me avisem quando a tarefa estiver concluída.

18.8.08

Estive ausente por motivos alheios à minha vontade, agora para compensar minha ausencia vou postar um outro conto erótico que também foi editado no site do poeta Lima Coelho.
LOUCURAS NA AREIA Estávamos nos dois, silentes, por que não dizer embasbacados diante da beleza daquela noite.
A lua, sem pensar nos ditames ora vigentes de silhueta dava-nos mostras de total felicidade mostrando, para quem quisesse ver, sua total e gorda imagem alva.
Cada vez mais linda, espargia por sobre a terra seus raios cintilantes, que por sua vez, ascendiam milhares de estrelas que, acesas, davam a impressão de que de um instante para outro uma nuvem de pequenos e reluzentes pirilampos nos envolveria e nos carregaria para o infinito.
O mar, por sua vez, cantava melancólica melodia enquanto fazia com que suas pequenas marolas, em desumana delicadeza, viessem beijar as areias junto a nos e, depois desse beijo afetuoso, possuía a areia, penetrando-a suave e calmamente, num ato sexual perene.
Os coqueiros coroavam a paisagem com seus altos e esguios troncos e serviam de instrumento para que a brisa leve, ao passar por entre suas folhagens, executasse melodia nunca dantes ouvida, dando-nos a impressão que os anjos, inebriados pela emoção, desceriam do alto das nuvens, em coro divino, cantassem uma canção de amor.
Estáticos, contemplávamos toda essa maravilha.
Senti, então, uma vontade incontida de abraça-la ainda mais forte e beija-la num beijo longo para selar esse momento de inegável singeleza.
Pensei e pratiquei. Abraçando-a com másculo vigor, beijei-a, com sofreguidão.
Ela, demonstrando, também, todo envolvimento retribuía meus beijos e abraços com toda a volúpia características de amantes enlevados.
Foi uma seqüência de beijos nunca dantes por mim experimentados.
Nossos corpos, quase que fundidos, num certo momento, não mais obedeceram aos limites da razão.
Vencidas as resistências, libertaram-se os desejos, deixamo-nos cair por sobre a areia da praia e nos entregamos aos prazeres, sem pudor nem ressentimentos. Livres, leves e soltos.
Em ânsia incontida tirei suas roupas, buscando não só o prazer de vê-la desnuda, mas também desejando mostrar aquela magistral beleza e, por um momento, fazer inveja à lua que ali estava a iluminar nossa cena de amor.
Minhas roupas, igualmente arrancadas por ela, numa vertiginosa volúpia, jaziam inertes sobre as suas, sugerindo-nos um definitivo acordo de posse e prazer.
Beijei-a mais ainda, beijei todo o seu corpo da testa coroada por gotículas multicoloridas de suor, aos pés distanciados de forma a mostrar, entreaberta, suprema catedral do amor, onde incontinente fui rezar.
Ela tremia e se contorcia de prazer, molhada de desejos, volteou seu corpo e, subjugando-me, deu inicio a uma serie de beijos incríveis e deliciosos.
Foi beijando e descendo até que, sem sentir qualquer resistência, beijou de forma fantástica e sensual o alvo de suas intenções.
Foi tanta a emoção e tesão que não resisti, meu gozo foi total e tão absoluto que ela, sentindo o meu prazer, gozou também.
Ainda gemendo e dizendo palavras desconexas, ela deitou-se e se ofereceu com tal intensidade que eu, não consegui sequer tomar fôlego.
A possui de forma quase animalesca, nossos corpos, em dança coreografada pelo sexo, foram em poucos minutos, do ate o maior grau de prazer rolamos areia afora, lambuzados de prazer.
Exauridos, permanecemos prostrados e só nos apercebemos da hora quando a lua, ainda satisfeita cedeu seu lugar no firmamento a um sol radiante.
Tão radiante quanto o ato sexual por nos vivido.
Hoje, vejo a mesma lua, o mesmo mar, as mesmas estrelas, o mesmo coqueiro, e nada mais me emociona por que não a tenho ao meu lado.
Vivo das lembranças e das saudades.

11.8.08

O rabisco postado a seguir é fruto dos meus devaneios e foi editado,também, no site do poeta Lima Coelho. Ele vem provar que minha memória, às vezes, tem lampejos e se faz presente de forma correta. EPISODIO BAIANO Sem saber como, ele se viu novamente na praça em que dias atrás episódio havia presenciado um espetáculo inusitado e muito estimulante. Ele era um tanto quanto sisudo. Tinha o semblante de um homem com cinqüenta e poucos anos bem vividos. Não aparentava, por seus trajes, ser um tradicionalista convicto. Vestia um terno desses tecidos leves de agora, de cor cinza clara e uma camisa de cor azul marinho escuro. Não usava gravata. Os acessórios que usava (meias, sapatos e cinto) eram discretos, na cor preta. Correu o olhar por toda a praça, parando, propositalmente, no grupo de baianas que preparavam, com alegria e desvelo, seus quitutes, que logo mais seriam degustados por uma assídua e fiel clientela. Na primeira passada de olhos não encontrou o que procurava, na segunda vez, um tanto mais investigativa, achou. Era ela, tinha certeza. Era ela que dois dias antes havia dado um espetáculo de magia e sinuosidades. Reparou melhor e percebeu que era uma linda e sestrosa negra. Tinha olhos espertos, lábios insinuantes de tanta umidade e brilho, e um corpo, ah um corpo simplesmente correto e tentador. Memorizou então, o aludido episodio que o levara sem perceber, a voltar até lá. Viu o grupo era mais ou menos o mesmo, a baiana estava no centro da roda que se formara pelos demais elementos do grupo de quituteiras. Discutia com uma delas. A discussão foi cada vez mais tomando corpo. E os expectadores vibravam com aquela cena, sem ao menos saber o porquê daquela discussão acirrada. E a multidão se alastrava e as perguntas ficavam sem respostas. Todos ao mesmo tempo queriam saber o porquê daquela desmesurada. Só um bom matemático podia entender o que levou aquelas baianas a entrarem em guerra disputando por um sinal maior. A negra, que já requisitava toda a sua atenção, isolou-se das demais e tomando o centro da roda que se formara iniciou um giro de 360o. sobre o eixo de seu corpo. Esse giro foi cada vez tornando-se mais rápido. A negra girava, as saias rodavam e a rodeavam qual balão iluminado em festa junina. As saias rodavam, rodavam e foram subindo, mostrando por debaixo delas uma calçola branca e rendada. Seus olhos, sem se fecharem viam a cena e por uma força que não sabia de onde vinha, começaram a despir aquela negra, iniciando pela tal calçola e mostrando com toda a sensualidade de duas pernas negras e sinuosas. Eram pernas demasiadamente lindas, canelas finas e bem desenhadas que subiam de forma harmoniosa ate os joelhos, arredondados e simetricamente perfeitos para sustentarem sobre si duas coxas maravilhosamente grandes e aconchegantes que, mercê de suas qualidades, ostentavam, ainda, ao seu final, uma graciosa e bem cuidada coroa de pentelhos negros e encaracolados, que mais pareciam guardiões uniformizados de um vale que abrigava uma deliciosa e rubra catedral de amores e perdições. E ele atônito só observava e se imaginava entrando naquela roda e retira-la de lá, ficava só a indagar será que a briga foi por causa das pernas que calçola ocultava? Ou será que foi por causa de ponto de acarajés? A incógnita ficava no ar. A luta chegava ao final, cansadas do bate boca e puxões de cabelo tentavam se refazer e ele só de cá a espionar. Ansioso aguardava o horário de a sua pretendente encerrar os seus afazeres para que ele pudesse acompanhá-la numa tentativa bastante sutil se aproximar e falar do seu encantamento por ela. Cada passada da formosa baiana era como se o coração dele estivesse escancarando para recebê-la. E ele quando olhava para ela seus olhos insistiam em abandonar o seu corpo como se quisesse pular em seus braços. As batidas aceleravam passo a passo, se imaginava possuindo-a tal era a sensação do seu corpo. O acaso e a persistência também estavam ajudando-o. Sem perceber adiantou as passadas e emparelhou com ela, trocaram olhares maliciosos e se cumprimentaram, prontamente, eles se ofereceu para ajudá-la, com as sacolas pesadas dos quitutes que sobraram. Ela sem contestar não se fez de rogada, aceitou e agradeceu. As perguntas foram demonstrando atitudes. -E aí, está calor não é mesmo? -Sim! Mormaço que abafa e aperta o coração. Aproveitando o ensejo ele a convidou. Que tal algo gelado para aliviar a sede? Ela aceitou, mais do que ninguém, sabia como era importante aquela bebida para relaxar do dia que tivera e do que acontecera. Assunto não faltava, mas o desejo dele era passar por cima das histórias e se preparava para dar o seu último lance para ganhar aquele coração. Estava ficando impaciente querendo aquela baiana a qualquer custo. Abriu os olhos que, sem motivos, tinham ficado cerrados por tempo inimaginável. Caiu na realidade, acabava de sair de uma visão , de um transe abrasador... Os dias se passaram e a baiana continuava arrancar suspiros daquele homem misterioso e de outros tantos que por ela passasse e assim seguia com seus feitiços na conquista dos corações desamparados.