30.11.08

MEMÓRIAS MOTORIZADAS

Fecho os olhos e relembro das minhas “façanhas” atrás do volante daquele meu fusquinha 1950 (importado) quase todo original.

Era um carro resistente, só me deixava na rua por falta de combustível, como era econômico eu me esquecia de abastecê-lo e não tendo os recursos da modernidade, não tinha também o mostrador de combustível. Somente tempos depois fui descobrir que ele tinha um tanquinho reserva para asa horas de aperto e que era acionado com o deslocamento de uma chaveta ao lado da alavanca do cambio. Esse recurso permitia ainda que eu rodasse uns 20 kilometros, daí nunca mais fiquei na mão.

Uma das poucas vezes que o fusquinha me deu problema na rua foi durante uma das minhas ousadias eu, por sinal, será o pano de fundo desta memória.

Eu havia gostado de dirigir sem documentação de motorista habilitado (razão de muitas brigas com minha esposa), então cada vez me arrojava mais.

Um dia tive que participar de uma reunião noturna e combinei com minha esposa que ela deveria ficar à minha espera na casa de uma tia dela no bairro de Moema, pois como a reunião seria no Jabaquara, assim que eu estivesse livre passaria por lá apanharia ela e as duas filhas e iríamos para casa.

Devidamente combinado, fui para o compromisso que demorou acima do previsto e terminou por volta das 22h00min horas, apanhei o fusqueta e fui buscar minha família e todas as tralhas que nos acompanhavam a cada saída já que minha filha mais velha estava com 4 aninhos e a mais nova na época tinha menos de 1 ano.

Lá chegando encontrei também com o noivo de uma prima da minha esposa que morava no Bixiga, como eu deveria ir para o Sumarezinho ofereci carona a ele que aceitou de imediato.

Levei-o, então, até a Rua Dr. Seng e lá chegando decidi que meu trajeto até em casa seria o seguinte: Ruas São Carlos do Pinhal, Antonio Carlos, Bela Cintra Matias Aires, Maceió, Angélica, Novo Horizonte, Minas Gerais, Dr. Arnaldo, Heitor Penteado, Cerro Cora e, ponto final.

Decidido o trajeto, acelerei o carrinho e segui bem frente, já na Rua Maceió deparei com um transito fora do normal para àquela hora, mas fui em frente, embiquei a frente do carro na Avenida Angélica e senti um arrepio na espinha, estava dentro de um dos grandes comandos que se realizavam naquela época. Todas as armas trabalhando em conjunto, eram os anos de chumbo, PM, Policia Civil, Aeronáutica e Exercito em busca de contraventores de transito, terroristas, bandidos e tudo mais que caísse na rede. E eu, transgressor do transito, havia caído na rede...

O pior era que alem da multa, do carro guinchado, do maltrato das minhas filhotas, teria ainda de ouvir a dona da pensão falando o que bem entendesse nos meus pobres e humanos ouvidos... Ninguém merecia isso, muito menos eu.....

Usando a primeira marcha, fui avançando da forma que o transito permitia, ouvindo os apitos frenéticos dos guardinhas e vendo os carros da frente serem revistados de cabo a rabo.

Eis que, senão quando, o fusca deu uma tossida e morreu. Dei na partida (era um botãozinho no painel) por diversas vezes e ele nada de responder. Os carros da minha frente já estavam indo embora, os carros de trás querendo andar e o fusca parado... Os guardas apitavam me mandando avançar e eu, depois de muitas tentativas, sai do carro e comecei a fazer força para empurrá-lo, depois de algumas tentativas infrutíferas, chamei alguns militares, expliquei que havia dado pane e que o motor não queria pegar.

Eles constatando a minha “aflição”, confirmando a existência de minha querida esposa e filhas, e não tiveram duvidas, me ajudaram a empurrar o carro para a calçada onde estacionei à frente de um prédio, esperaram eu pedir ao guarda do prédio que vigiasse o carro enquanto ele ali ficasse. Chamaram um táxi quer estava parado para ser vistoriado, me ajudaram a mudar minha família e todos os cacarecos de dentro do carro párea o táxi, liberaram o táxi da vistoria e me desejaram, ainda, um feliz fim de noite.

Livre do comando fui embora para casa e no dia seguinte fui com o mecânico até o fusca e constatamos que a parada havia sido por causa de uma pane no dínamo. Mandei fazer o reparo que ficou, com certeza, muito mais barato do que as multas que eu merecia e iria levar.

Eta Santo Forte eu tinha.....

24.11.08

VARRE VASSOURINHA... VARRE! Miroca era o apelido carinhoso daquela negra forte e sorridente, seu nome era Miriam, mas sua mãe, afetuosamente, sempre a chamara assim. Tivera estudos elementares enquanto seus pais puderam arcar com as despesas, depois, teve que ir trabalhar de doméstica para ajudar no orçamento caseiro e, lógico, desistir dos estudos. Escola não ia, mas largar de ler jamais. Lia tudo que lhe aparecesse à frente, de bula de remédio a livro de pornografia. Assim foi adquirindo a cultura que lhe seria útil no correr de sua vida. Conheceu Ditinho, namoraram, casaram e montaram seu barraco lá na periferia. Sua casinha, simplória e mal acabada era um primor em ordem, limpeza e higienização. Um dia, Miroca, decidiu prestar concurso para trabalhar na prefeitura. Prestou e foi aprovada. Começou a trabalhar na prefeitura, ocupando o cargo de Gari Municipal. Hoje Miroca, como de costume, levantou cedo, serviu o café, preparou a marmita e foi para a labuta de todos os dias. Chegou cantarolando, e saiu com seus apetrechos para recolher o lixo das ruas. Uma varridinha aqui, outra varridinha ali, ia levando sua vidinha. Não se ressentia de ser uma gari sentia, isso sim, tristeza de ver que o povo da sua cidade, não tinha a educação suficiente para ser merecer elogios. Sua cantoria era, às vezes, interrompida por um resmungo de indignação: - Não é possível, será que ninguém tem na própria casa uma lata de lixo? Meu Deus, como será o interior da casa dessas pessoas? Deve ter sapato na sala, lata de lixo junto com a mesinha da TV, casinha de cachorro na cozinha... Soltava um longo suspiro, sorria e continuava a varrer. Varria e recolhia o lixo para evitar o entupimento dos bueiros. Ela já tinha lido em algum lugar que bueiros entupidos são fontes de doenças e epidemias. Era assim que começavam as contaminações. Depois, iam se alastrando e os surtos se instalavam. Mortes podiam acontecer. Será que ninguém se ligava nesses fatos? Assim pensando ela ia cumprindo suas tarefas... Nossa que trabalheira! -Será que os habitantes daquela cidade, daquele estado, daquele pais, da terra, não iriam aprender nunca. Ninguém percebia que ela, cumprindo as tarefas básicas, já tinha trabalho suficiente? Eles não precisavam lhe arrumar mais trabalho. Podiam facilitar as coisas para todos se os papeis, os tocos de cigarro, as embalagens de plástico, as latinhas fossem depositados em locais apropriados. Esse serviço extra lhe tomava um tempo acima do normal e não lhe permitia fazer o seu trabalho de varrer as sujeiras que a natureza, através do vento e da chuva, depositava nas ruas. Cansada parou para e tomar um café no boteco do Joca, ele lhe oferecia um todos os dias. Tomou seu café, suspirou profundamente e voltando ao seu carrinho, deu uma olhada para trás tentando conferir o trabalho que até então realizado e ficou mais desanimada ainda. O trecho de rua que ela varrera com tanto carinho e dedicação já estava cheio de lixo. As calçadas não haviam ficado limpas por mais de 10 minutos. Era o fim da picada! Não havia paciência que pudesse suportar tanto desleixo e falta de educação. Naquela tarde, voltando para casa, ela decidiu lançar uma campanha de conscientização para salvar o meio ambiente. Pegou uma folha de cartolina que havia sobrado do trabalho escolar de sua filha e, com um pincel mágico escreveu: “GALERA AMIGA AJUDE ESTA POBRE GARI CUIDAR DAS RUAS DE NOSSO BAIRRO E IMPEDIR QUE O NOSSO MEIO AMBIENTE VENHA FICAR MAIS DETERIORADO AINDA CERTAMENTE, A MÃE NATUREZA, VAI NOS AGRADECER BASTANTE! MOSTRE AOS SEUS VIZINHOS A BOA EDUCAÇÃO QUE RECEBEU DE SEUS PAIS E OS EXCELENTES ENSINAMENTOS RECEBIDO DE SEUS PROFESSORES.” No dia seguinte colou o cartaz com fita adesiva no seu carrinho e saiu para fazer o trabalho de todos os dias. Recebeu vários elogios dos transeuntes e comerciantes por onde passava varrendo, mas não queria parabenizações, queria atitudes. Esperava estar chegando ao intimo da consciência de todos. Sua determinação estava sendo bem aceita, já era um grande passo. Ao termino da jornada, volta à base para descarregar o lixo recolhido, limpar o carrinho e estacioná-lo direito até o dia seguinte quando vê se aproximar o supervisor dos garis e, lógico, seu chefe que com voz autoritária exige que ela retire aquele cartaz do carrinho, da-lhe uma tremenda bronca pela ousadia de usar um apetrecho da prefeitura para fazer campanha de cunho particular (?). Dá-lhe informa que por tamanho disparate ela ficará suspensa do trabalho por três dias e que, na reincidência será exonerada do cargo. Cabisbaixa, Miroca volta para casa sem entender por que ninguém lhe ajudava a cuidar do meio ambiente como deveria ser. No caminho ainda cantarolou trechos de umas modinhas melancólicas para, como pensou, fazer o fundo musical da sua tristeza. Um dia, se Deus quiser e se ainda não for tarde demais, lhe darão razão e aceitarão suas verdades. Até lá, sua rotina será a de sempre, andar pelas ruas fazendo a limpeza com sua vassoura.... Varre vassourinha, varre....

23.11.08

ATENÇÃO LEITORES E AMIGOS! Acabo de receber um convite da LOBA convocando-me a participar da edição 2008 do AMIGO OCULTO. Aceitei de imediato, e esta será minha 3a. participação. Posso garantir que é uma experiência diferente e muito gratificante. Através das participações anteriores tive a satisfação de semear e colher grandes amizades. Convido a todos que visitarem este meu cantinho de rabiscos a se inscrever neste novo evento. Para participar basta entrar no blog :
Ou, ainda, enviar um e-mail confirmando participação para a LOBA no seguinte endereço virtual:
Então, VAMOS PARTICIPAR???

15.11.08

Amigos,
Desde ontem estou vivendo em turbilhão. É um misto de orgulho, vaidade e alegria que não consigo descrever com exatidão.
O motivo dessa eufórica experiência foi a noticia recebida ao final da tarde de ontem através de um email transmitido pelo CONSELHO COMUNITARIO DE SÃO PAULO, informando o resultado do VIII Concurso Literário “Cleber União Guimarães”, e me convidando para participar da premiação que será realizada dia 5 de Dezembro.
Com minha vaidade em alta eu não poderia me furtar de copiar a relação dos vencedores. Eis parte do email:

CONCURSO LITERÁRIO – PREMIAÇÃO CONSELHO COMUNITÁRIO DE SÃO PAULO PRÊMIO “CLEBER ONIAS GUIMARÃES” - 2008 PREMIADOS 2008 – PUBLICAÇÃO RESULTADOS – CONTOS - 2008-11-04 ADULTOS - NACIONAL / EXTERIOR 1º Lugar: Oswaldo Pullen Parente (Nasc. 20/02/48) (161) TRABALHO: “VENTO DE TRAVÉS” SQN 203 Bloco H Apto. 508 Brasília – DF (Cep 70833 080) Tel. (61) 8138-7998 (oswaldopullen@gmail.com) Publicou dos livros, “22 poemas”, em edição própria, e “Alípio Doidão”, patrocinado pela Caixa Econômica Federal. É membro efetivo do Conselho de Cultura do DF, Membro da Associação Nacional de Escritores. Foi jurado do Concurso Machado de Assis de Literatura, do SESC-DF e ministra oficinas de literatura desde 2006. .......................................................................................................................................................... 1ª Menção: Miguel Salvador Gabriel Chamas (Nasc. 26/05/40) (255) TRABALHO: “O PONTO FINAL” Rua Flórida, 488 Apt. 23 Praia Grande - SP (CEP 11708 – 040) Tel. (13) 3493-8359 (11)7353-1170 (misagaxa@terra.com.br) Escreve desde os 17 anos, mas nunca publicou. Participou de duas coletâneas de blogueiros, onde escreve há mais de dez anos. Teve participação como autor no livro SÃO PAULO, MINHA CIDADE, editado pela SPTuris, em abril de 2008. .......................................................................................................................................................... 2ª Menção: Júlio Pepe Barradas (Nasc. 15/08/72 TRABALHO: “IDÉIAS SOBRE O APOCALIPSE” SHIS QI 21 - Conjunto 01 - casa 11 – Lago Sul Brasília – DF (Cep 71655 - 210) Tel. (61) 3366-2641 / (61) 96494636 (pepe@stj.gov.br) Tem participação e premiação em alguns concursos literários, como “Prêmio SESC “Tributo Terra Brasilis” – na categoria Júri Popular, em Brasília; 1º lugar no concurso “Internacionalizando o jovem escritor”, categoria contos, em Vespasiano, MG; Indicações para os concursos internacionais de contos “Himilce”, em Gènave, Espanha, e “Relatos Cortos Altura”, em Gran Canária, Espanha. Tem também Menção Honrosa no 1º Concurso Literaris, de contos, em Porto Alegre, RS; 1º lugar no XII Concurso de Contos , Crônicas e Poesias ALPAS XXI, de Cruz Alta, ainda no RS, bem como 3º lugar no IV Festival de Contos, Crônicas e Poesias, de Santa Lúcia, SP. Agora, vamos ao texto que me deu a chance de um 2º. Lugar tão honroso: O PONTO FINAL
Mauro, sentado em sua poltrona habitual, onde permanecia por varias voltas do relógio, todos os santos dias, aconchegado em uma manta de lã que lhe ajudava a combater o frio daquela manhã, olhava de forma indireta a figura de Rita, sua filha mais velha e atual hospedeira.
Estava no segundo mês da hospedagem trimestral em que se transformara sua existência, A cada 3 meses, trocava de endereço. Ia para a casa de outro dos seus 4 filhos.
Assim ninguém chegava a se estressar com a sua figura e com suas rabugices.
Fora um acordo feito há algum tempo e que até aquele momento apresentara ótimos resultados. Pelo menos, aparentemente.
Enquanto assistia Rita a se locomover pelos diversos ambientes da casa, limpando aqui, recolhendo outra coisa acolá, Mauro começou a avaliar sua vida atual.
Era meio insípida, não tinha mais as emoções de outrora. A comida, sempre muito simples e sem muito tempero não lhe ensejava o prazer de se alimentar, e se propusesse um prato especial, daqueles de outrora, cheios de sabor, era de imediato criticado pelo filho hospedeiro: - Você está louco pai? Quer morrer?
Inibido ele se calava.
Bebida era água de filtro sem gelo. Se pedisse para que ela viesse temperada com um pouco de água gelada novamente ouvia: - Se esqueceu da gripe do ano passado? Quer voltar para o hospital? Pai, não me arrume mais problemas dos que eu já tenho.
Ele tomava a água em pequenos goles e se calava.
Quando em casa, os netos resolviam ouvir musica. Musica? Não, aquilo não era musica era um amontoado de barulhos estranhos, um sem parar de tum tum tuns que lhe invadiam cabeça adentro e iam se alojar, sem dó nem piedade, no centro do cérebro.
Se por acaso pedisse para que eles pusessem uma musica mais suave, quem sabe um Nelson Gonçalves para não ir mais lá atrás e pedir um Carlos Galhardo ou um Orlando Silva, eles em ostensiva gargalhada diziam que não eram guardiões de museu. Mandavam ele ficar quietinho ou, então, ir para o quarto dormir. Dormir? Como dormir com aquela barulheira infernal?
Podia palpitar em qualquer coisa, sobre qualquer assunto, mas não seria nem ouvido e, se ouvido, sua opinião não seria levada em conta. - Os tempos agora são outros, meu velho. O senhor não precisa se incomodar com nada, só pense em viver bem, em desfrutar a hospitalidade e o carinho que lhe damos.
Viver? Aquilo lá era vida que se podia viver? Hospitalidade agora era sinônimo de uma pequena cama nos fundos da casa e de uma poltrona velha e ensebada na sala? Carinho era ser chamado de pai, de vô?
Com a sua eterna mania de pensar, Mauro começou certo dia a lembrar-se do passado, lembrar de quando seus hospedeiros trimestrais eram ainda crianças.
Lembrou-se que por um acordo tácito com sua esposa e mãe de seus filhos, ficara definido que ela seria a boazinha, a mãe salvadora perante os filhos. Ele, por sua vez, seria o mão de ferro.
Alguém teria mesmo de endurecer a vida das crianças e prepará-las para o futuro.
Lembrou-se que na ocasião do acordo ainda dissera, plagiando um tal de Guevara “Hay que endurecer. Pero sin perder la ternura. Jamas”.
E como acordado estava, ele tratou de fazer sua parte. Era o primeiro a dizer não, o primeiro a cobrar atitudes, o primeiro a brigar. Lógico, depois, convencido pela santa mãezinha, acedia, concordava.
Porém, nunca, em toda a sua existência deixou de dar atenção e carinho a cada um dos filhos. Fez de sua existência um emaranhado de problemas para poder lhes dar boa casa, boa comida, boa educação, estudos efetivos. Atendeu aos seus mais comezinhos desejos. Comprou-lhes sempre do bom e do melhor.
Mais tarde, com o passar dos anos, já adultos, se alinhou a eles e os abraçou sem precisar mais ser o “durão”. Foi, então, muito cobrado.
Suas posições no passado foram criticadas, renegadas. Nenhuma explicação que viesse a ser dada foi efetivamente aceita.
Cicatrizes profundas haviam se enraizado naqueles seres que eram pedacinhos de seu próprio ser.
Os tempos correram céleres e, quando se viu velho e incapacitado de se cuidar pessoalmente, fora obrigado a aceitar o que sempre sonhara não ter precisão.
A ajuda dos filhos se fez necessária.
Então, agora, ele vivia aquela trimestral existência. A cada ano que passava ele mudava quatro vezes de endereço, mas só mesmo de endereço, pois o tratamento era sempre muito parecido.
Na verdade eles não o aceitavam, apenas o suportavam.
Cônscio da situação ele, como fazia a todos os momentos do dia, pedia com fervor para que Deus, na sua bondade, se lembrasse dele e o levasse para o outro lado.
Só assim, pensava, ele poderia ver-se livre do revide que os filhos lhe faziam e, mais uma vez, pela ultima vez, poderia atender ao desejo de todos eles o de ficarem livres daquele ônus pesado e sem nenhum retorno, o pai..
Um dia Deus lhe ouviu e ele partiu!
E ainda, no decorrer das exéquias, meio querendo continuar neste plano, Mauro buscou entre os presentes, os filhos amados.
Achou primeiro a Rita que sentada numa cadeira do velório, enxugava algumas lagrimas que num grande esforço rolaram por suas faces e dizia: - Mas ele estava tão bem, ainda ontem ele pediu uma sopa de feijão, nas achei que seria muito forte e fiz um caldo de carne com arroz. Ele bateu dois pratos e se eu me propusesse a lhe dar mais um prato ele, tão guloso era, teria aceitado.
Caldo de carne? Foi é caldo de osso com arroz do dia anterior. quis gritar Mauro, mas não conseguiu,
Rosira, sua filha do meio, na área externa do velório, fumava um cigarro
Rosa e Álvaro, os dois filhos mais novos, estavam na rua e narravam a dois outros ouvintes suas aventuras nas baladas mais recentes, sem mostrarem qualquer tipo de consideração com o corpo do pai que jazia, ainda, na câmara-ardente.
Pronto, foram essas cenas o ponto final na resistência de Mauro. Ele, capitulando, fechou os olhos e buscou encontrara a luz da eternidade. `
Era o ponto final.

Quero, aqui, agradecer todas mensagens de parabenização que estoiu recebendo desde sábado ultimo.

Inclusive, agradecer a minha comadre e parceira querida Beti Tim que em Rosa Choque me fez uma grande e enocionante homenagem.

9.11.08

ADOÇÃO

Esta postagem acontece por participação na blogagem coletiva idealizada pela Georgia (Saia Justa) e o Dácio (Chega mais) para o tema ADOÇÃO. Ela está baseada em fatos reais e foi escrita com as tintas do coração.
ADOÇÃO = CARMA? É preciso, claro, primeiro conhecer os fatos para concluir com certeza sobre o título. Assim sendo, sem maiores preâmbulos, vamos aos fatos: Ano de 1963: Dona Tereza (minha saudosa mãe) com 2 filhos já bem criados, ainda se ressente da perda de uma filha que foi abortada. Lembra-se, sempre, de uma decisão tomada quando do ocorrido, se Deus permitisse, adotaria uma menina. Os anos haviam passado e a decisão, por uma série de motivos, era sempre adiada. Neste ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, Dona Tereza consegue contato com um sacerdote católico que se dedicava a promover benefícios às mães-solteiras e outros que tais. Por volta do mês de Julho, foi informada que uma moça, com quem ela nunca teria contato, estava grávida de uma menina e, por falta de condições financeiras e familiares, tinha concluído que daria a filha em adoção tão logo ela viesse à luz e, depois, voltaria para seu local de origem. Todos os acertos foram alinhavados e a família Chammas passou a aguardar com total ansiedade o nascimento da pequerrucha. Foi uma gestação familiar, se assim posso denominar, onde o Sr. Alfredo, a Da. Tereza, eu, o Antonio Carlos meu irmão, meus primos Roberto e Sonia (na época, órfãos e continuando a morar conosco), minha única tia por parte de pai a Zazá e seu esposo o João e todos os outros agregados se consideravam pai e mãe da esperada menina. Ano de 1964: Dia 29 de janeiro o telefone dos Chammas tilinta e eles são avisados que a tão esperada menina nascera. Era perfeita e eles deveriam se preparar para ir buscá-la na maternidade no dia seguinte. Na data aprazada, fomos para lá minha mãe e eu. A Maternidade, cujo nome não me recordo, ficava no início da Rua Voluntários da Pátria, em Santana. Ali chegando, fomos recebidos por um representante do sacerdote que já havia tomado todas as providências e nos entregou o tão esperado bebe, enrolado numa manta simplesinha. Não tivemos qualquer contato com a mãe biológica e nunca soubemos seu nome ou endereço. Junto com a criança, nos foi entregue uma declaração com os dados para que providenciássemos os registros legais, o que foi feito de imediato constando como pais naturais o Sr. Alfredo e a Da. Tereza. Ludibriavam-se assim as determinações legais e toda a burocracia envolvida. A menina cresceu forte, linda e totalmente ignorante de sua real origem. O carinho com que era cercada, as atenções que recebia, a inteligência largamente comprovada, fazia daquela menina um sonho transformado em realidade. Um dia, nuvens negras começaram a toldar o lar dos Chammas. Ameaças de contar a verdadeira origem daquela princesinha surgiram e foram pretensamente afastadas. Como diz o ditado “a mentira tem perna curta”, um dia essa menina soube por terceiros sua verdadeira história. O choque de saber-se filha adotiva não foi grande, grande foi o choque de saber que os pais, irmãos e parentes próximos, em quem ela sempre confiara, a haviam enganado. Essa constatação, por mais que ela tivesse tentado entender, marcou muito no seu âmago. Um dia, essa menina, sempre querida e cuidada, instruída, cônscia dos problemas do mundo e da maldade dos homens, cai em tentação e, da mesma forma que a mãe biológica, engravida, ainda na solteirice de sua adolescência. A família, consciente do fato, lhe dá todo o apoio. Eu, seu irmão, com 24 anos mais velho do que ela, lhe dou total guarida e lhe prometo tudo de melhor durante a gravidez e depois dela, infinitamente. O cérebro humano é bastante enigmático, sabe-se lá o que e como toda aquela situação se apresentou no intelecto daquela menina-moça. A princípio, ela aceitou a situação e trouxe à luz um lindo e forte garoto. Depois, desandou a fazer bobagens, a viver uma vida para a qual não havia sido preparada. O filho, inocente, passou a ser relegado e, um dia, ainda morando em minha casa, ela saiu para comprar pão e não mais voltou. O filho havia ficado no berço e junto a ele um bilhete em que dizia não estar mais suportando a situação e nos entregava o garoto da mesma forma que a mãe a tinha entregado. A principio tentei demove-la da decisão. Percebendo, com o passar do tempo que não poderia alterar a situação, decidi que adotaria o garoto, mas o faria dentro das formas legais. Foi o que fiz, junto com ela, meus pais e minha esposa, perante o juiz, regularizamos toda a situação e o menino passou a ser nosso filho (meu e de minha esposa). Para não incorrer no mesmo erro de meus pais, desde a mais tenra idade fui mostrando a esse menino que ele, mesmo não tendo saído da barriga de sua mãe, era tão ou mais filho nosso do que suas irmãs, uma vez que ele nos havia sido oferecido por Deus e por nós escolhido. Surpreso, percebi que ele, por mais tentativas nossas em discutir ou conversar sobre a sua situação de filho adotivo, ele se recusava, peremptoriamente, a qualquer tipo de abordagem ao tema. Preocupados, depois de um pouco mais velho, o levamos a uma psicóloga infanto-juvenil que, depois de várias sessões, concluiu que ele era perfeitamente normal, que nos considerava realmente como seus verdadeiros pais, por nos amar de paixão e, simplesmente, por causa desse amor, não pretendia discutir nada a respeito de sua adoção que ele considerava inexistente. Aceitamos a decisão por ele tomada e a paz reina entre nós, até esta data. Graças a Deus, não cometi o mesmo erro pela segunda vez e fui, assim, agraciado com o amor eterno desse filho querido que, mesmo depois de ver o casamento de seus pais terminado, segue nos amando e respeitando sem quaisquer restrições. Por causa desses fatos é que o título desse texto é ADOÇÃO = CARMA? Conclusões e arremates: Este depoimento eu faço para atender a conclamação de meu considerado Dácio e da caríssima Geórgia para uma blogagem coletiva sobre o tema ADOÇÃO. Espero tenha atendido aos anseios dos promotores. A mãe biológica, minha irmã, hoje já voltou a ter contato com ele que nutre por ela apenas o carinho dedicado a uma tia, irmã de seu pai, de quem só há muito pouco tempo teve conhecimento. Finalmente, na madrugada do dia 1º de Janeiro de 2005, por decisão única e exclusiva do meu filho, numa conversa nossa ao redor de umas várias cervejas bem geladas, ele me perguntou sobre detalhes da sua história e origem. Coisa que fiz com todas as minúcias necessárias. Essa conversa terminou quando o sol da manhã chegou para ocupar, com sua claridade, o quintal de minha casa. Um grande e forte abraço foi trocado entre esses dois amigos e eu recebendo, ainda, um beijo carinhoso desse meu filho, já homem feito.

5.11.08

Estamos em novembro, num piscar de olhos o Natal estará batendo em nossas portas. A data festiva tem a propriedade de me tornar nostálgico. Além das raizes religiosas, minhas raizes familiares falam mais alto e me trazem recordações várias. Pinço da memória uma recordação natalina que me traz muita emoção e neste dia vou tentar compartilhar essa emoção com todos que vierem ler meu rabisco. OBRIGADO DOUTOR! Filhos nos dão trabalho antes durante e depois do nascimento, mas o bom é que esses trabalhos passam a ser presentes carinhosos. Minha primeira filha, a Renata, anunciou sua chegada poucos meses depois de termos vivido o trauma de um aborto e todas as suas complicações, inclusive uma curetagem. Devidamente escaldados, resolvemos, eu e minha exposa, cuidar dessa gestação desde os primeiros dias acontece que eu estava desempregado e sem condições financeiras suficientes para enfrentar um pré-natal eficiente, então, que resolvemos apelar para o Pré-Natal do SESC, pois nos haviam recomendado e afirmado que era excelente. Consulta agendada, nos dirigimos para os consultórios do SESC na Rua Florêncio de Abreu no dia e hora aprazados para sermos atendidos pelo Dr. Bianchi (se a memória não me trai, Dr. Giuseppe Bianchi). Cida é chamada e se dirige para o consultório e eu fico na expectativa, na saída ela me avisa que o medico havia pedido um exame de ultra-som, retiramos a guia, e fizemos o tal exame. Resultado nas mãos, voltamos ao Dr. Bianchi e, novamente, fico de fora enquanto ela é examinada. Estranho, porem, pois a certa altura a porta do consultório se abre e eu sou chamado. Entro meio ressabiado, sento-me e o Dr. Bianchi olhando sério para mim diz: - Nossa Cida está com um probleminha, o exame constatou que ela tem um septo vaginal que vai prejudicar bastante essa gestação, mesmo por que seu útero é muito pequeno. Vou aproveitar que o médico que está atendendo no consultório ao lado é meu professor na USP e diretor da Maternidade São Paulo onde estou fazendo especialização e pedir sua opinião sobre o assunto. Imediatamente, solicitou a presença do catedrático que, na frieza de sua sabedoria olhou os exames e , esse feto não tem possibilidade nenhuma de vingar, não percam tempo. Disse e saiu. Olhei bestificado para o Dr. Bianchi que, com toda a calma do mundo nos falou: - Tenham calma. Como já informei estou fazendo especialização e mestrado em Obstetrícia, então, se vocês autorizarem vou fazer minha tese com ele. Me proponho a cuidar pessoalmente da Cida, a custear todos os exames e fizerem necessários e, em, contrapartida só vou exigir que ela obedeça a todas minhas determinações. Garanto que essa criança vai nascer perfeita. Concordam? Concordância obtida, ele começou a dar ordens: -Cida daqui para frente vai ter que obedecer a um descanso absoluto, vai tomar uns comprimidos de Valium e ficar, até os completar 3 meses, totalmente deitada, só vai levantar para suas necessidades fisiológicas e para o banho diário. Este banho deverá ser rápido, sem movimentos bruscos e, se possível assistido por seu marido ou alguma outra pessoa. Antes de mais nada, amanhã você devera estar na Maternidade São Paulo para passar por umas seções de fotos documentais. Por sorte, minha sogra era funcionária da Maternidade São Paulo sempre que possível, todos os exames que a filha teve que fazer. A dedicação desse médico foi plena, total e absoluta. Tanto assim que no dia 18 de Março de 1969 vinha ao mundo uma linda menina que foi batizada como Renata Chammas. Passados 9 meses, na véspera do Natal, com a Renatinha no colo fui buscar minha sogra na Maternidade São Paulo. Estava acontecendo a festa dos funcionários e eu a esperei na porta do auditório. O Diretor da Maternidade, aquele mesmo que havia decretado a inviabilidade de nascimento da minha filha, terminou seu discurso e ao sair do auditório nos viu segurou na mão de minha menina e disse: -Olha que linda e saudável menina. Como é o nome dela? Agradeci e quando me preparava para lembrá-lo do ocorrido, minha sogra percebeu, veio correndo despediu-se do médico e me segurando pelo braço nos levou para fora dizendo: -Vamos filho vamos, deixa o resto pra lá, hoje é Natal! Perdi a oportunidade da desforra, mas, continuei com a companhia da minha filhota, linda e saudável.

3.11.08

Hoje, domingo, resolvo abrir uma caixa de guardados para mostrar algumas fotos antigas para a Sonia. Abre papel daqui, abre pasta dali e, num certo momento encontro um recorte de jornal.O jornal é o Diário Popular (hoje, Diário de São Paulo), a data não sei, sei apenas que foi publicado no inicio de 1998. A coluna é de Jésus Rocha. É uma publicação tão bonita e interessante que resolvi transcrever a coluna na integra. Principalmente por que neste ano se comemora 100 anos da morte do entrevistado. Tenho certeza de que irão apreciar. Lembro ainda que é uma publicação de 1998 mas que poderia, por seu conteúdo, ter sido realizada nos dias atuais. Vamos à tarefa: “Entrevista com Machado de Assis, o maior escritor brasileiro. Suas respostas foram colhidas em seus livros; são, portanto, ipsis-literissimamente autenticas. P – O senhor vê algum motivo de esperança para o Brasil, neste inicio de 98? R – A esperança é própria das espécies fracas, como o homem e o gafanhoto. P – Há quem diga que o otimismo de FHC não passa de desajeitada dissimulação já que... R – A dissimulação é um dever quando a sinceridade é um perigo. P – Muitos consideram o Plano Real um clarão que trouxe tranqüilidade à nossa economia. O que diz? R - Um relâmpago deixa a escuridão mais escura. P - E a falta de dinheiro atual? R – Falta de dinheiro, isso dói; ao menos para quem não é governo. P – O senhor acha que o Brasil tem futuro? R – O presente que se ignora vale o futuro. P – Há liberdade, mas também desemprego, miséria, insegurança, violência... Não é um tanto confuso? R – Liberdade, antes confusa que nenhuma. P – Acha que os políticos são responsáveis por essa liberdade confusa? R – Em política a primeira coisa que se perde é a liberdade.

P - Como o senhor ve o nopsso pais, apesar de tudo?

R – O pais real, esse é bom, revela os melhores instintos, mas o pais oficial, esse é caricato e burlesco. P – Qual a sua opinião sobre o povo? R – O povo ama as coisas que o alegram. P – Acredita em honestidade? R – Se achares três mil réis, leve-os à policia; se achares três mil com tos, leve-os a um banco. P – E no amor, acredita? R – Os homens, que inventaram tanta coisa, inventaram também este sentimento. Para dar justificação moral à união dos sexos, inventou-se o amor, como se inventou o casamento para dar-lhe justificação legal. P – O senhor foi amado? R – Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada mais. P – O que aconselha aos que estão enfrentando a vida? R – Não te irrites se pagarem mal um beneficio; antes cair das nuvens que de um terceiro andar. P – Pra terminar, o que o senhor acha da vida? R – A vida é uma opera bufa com intervalos de musica séria...”

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