28.11.09

ORAÇÃO DE UM VELHO APAIXONADO
Senhor, o Natal está chegando, paira sobre o ar um sentimento de alegria misturado a um que de solidariedade. Os homens, temporariamente, estão em paz. Isto é o efeito da data do teu natalício que se aproxima em velocidade nunca antes imaginável. Este velho, não sei se por insanidade ou por ousadia, resolveu, hoje cedo, dirigir-se em oração a Você, por intermédio do Velho Papai Noel, e fazer um pedido. Senhor, dentro do humilde conhecimento com que fui agraciado neste plano, tenho plena certeza de que a vida com Eça a fugir do meu corpo. Sei que por obra e desejo do Pai, começamos a morrer no primeiro segundo de vida, este é um principio inevitável e aceito por todos os viventes, meso os incrédulos da Sua Magnitude e Sapiência, mas eu, na minha total insignificância, começo a temer, com mais intensidade, o fim que se aproxima. Cristo, depois de uma vida repleta de alegrias e percalços, de sucessos e insucessos, de risos e lagrimas. Depois de criar uma linda família, hoje já adentrando à terceira geração, viu-se de repente, só e vazio de emoções. Na época, até pedi para o Senhor não me esquecer, para o Senhor me levar para perto do Pai. Não fui atendido. Conformado continuei vegetando e aguardando uma decisão do Criador. Um dia, nem sei como, vi o sol brilhar no meu caminho. Via a alegria retornar à minha vida. Uma mulher veio alegrar meus dias. Agradeci o presente e voltei a viver intensamente. Hoje, ainda de posse da sabedoria adquirida no decurso dos anos de vida, mesmo vivendo uma felicidade quase perfeita, continuo sentindo a vida se esvair. Fecho as mãos para tentar segura-la, mas ela se me escapa por entre os dedos. O final se prenuncia. Então senhor, sabendo da impossibilidade de sustar o inevitável, peço encarecidamente neste Natal que prolongues minha existência por mais alguns anos, me deixando usufruir desta felicidade sempre buscada e só agora alcançada. Por favor, Senhor, me dê vida pelo menos por mais 10 anos.

Obrigado e Amem...

24.11.09

OUTRAS MEMÓRIAS MUSICAIS

Como já apregoei por diversas vezes, sou um amante inveterado da boa musica, nacional ou internacional, sendo de boa qualidade, não ofendendo meus tímpanos a musica é digna de registro em minha memória.
Quando criança, mercê da sorte de ter como tio de minha mãe e, lógico, meu tio-avô, o Sr. Miguel Sito que foi, durante muitos anos, empresário oficial do Teatro Municipal de São Paulo, compondo, inclusive a Cia. Sito & Billoro que trouxe para o Brasil, principalmente para São Paulo, grandes nomes da opera mundial.
Assim sendo, gozando das benesses de ser sobrinho desse homem, eu vivi grande parte de minha infância nas entranhas do Teatro Municipal. Assisti a grandes operas das coxias daquele palco sagrado e, consequentemente, tive meus ouvidos “viciados” à boa musica.
Depois, mesmo continuando a freqüentar o Teatro Municipal, fui alargando os conhecimentos musicais. A musica popular me requisitou a atenção e adotei meus grandes ídolos. Entre eles estavam; Vicente Celestino, Francisco Alves, Orlando Silva, Sylvio Caldas, Dalva de Oliveira, Herivelto Martins, Nelson Gonçalves, Isaurinha Garcia, Nora Ney, Agostinho dos Santos, Francisco Egydio para citar apenas alguns.
Minha mãe, Da. Tereza, também teve uma excelente educação musical que aliada a uma voz clara e suave, fazia dela uma excelente cantora. Não foi uma cantante profissional, mas cantou muito para este filho querido.
Foram muitas tardes de cantoria onde as musicas eram as “canzonetas napolitanas” e os tangos de Gardel.
E assim fui crescendo. Já quase adulto, residindo ainda na Rua Augusta e trabalhando primeiro na Rua Libero Badaró (Brasil Editora), depois na Rua Senador Feijó (Condemar - Comissária de Despachos Marítimos) e, finalmente, na Praça Antonio Prado (Cial. E Imp. Restinga), o trajeto de retorno a casa era feito no “pé dois”, como se dizia na época.
Eu me preparava para tais retornos diários, quando não era dia de jogo do meu alviverde querido para eu ouvir a irradiação de Pedro Luiz ou Edson Leite no meu radinho Spícca (novidade da época), eu fazia o trajeto equipado com um exemplar da revista “Vamos Cantar” ou da revista “Modinha Popular” para ir cantando e decorando as letras que ali eram impressas. Garanto que esse expediente foi de muita valia, ainda hoje, tenho gravadas na memória, na integra, letras de musica dos anos 50/60.
A paixão musical me acompanha ainda hoje. Tenho uma excelente coleção de LPs em perfeitas condições e, também, quase 400 CDs que ouço com alegria de quando em vez.
Sinto apenas, que nos dias atuais, não se dá ao musico o valor merecido. A musica ao vivo e bastante desprestigiada. O musico precisa fazer outros trabalhos profissionais para poder viver e sustentar a família.
É uma pena.

10.11.09

MEMORIAS DE UM PONTO FINAL
Década de 50, eu com meus 10/12 anos, residindo naquela velha e gostosa casa da Rua Augusta junto com minha Tia Neide e seus dois filhos e mais minha Tia Zaira (Zazá para os íntimos).
Éramos uma família abastada, mas vivíamos dentro dos padrões rigorosos da época, em casa, para distração e atualização tínhamos apenas o rádio, uma peça enorme mais parecendo uma capela de madeira, com olho mágico verde e um pedaço de pano cobrindo o alto-falante, vitrola ou apenas toca discos era supérfluo e, por isso, um sonho distante.
Minha Tia Zazá, moça tinha começado um namoro com aquele que viria ser seu esposo e, consequentemente, meu tio o João que morava na Rua Mathias Ayres.
Com o namoro as famílias começaram a se visitar.
Eu, entrudo e folgadão, logo na primeira visita, depois de ser apresentado à mãe Da. Anita, mãe do João, e à Myrthes, Neusa e Lucia, as irmãs, fui bisbilhotar e descobri uma vitrola semi-automática.
Já doido por musica na época, mas doidinho fiquei ao fazer a descoberta. Pedi para ouvir alguns discos e, como desculpa, ouvi que tanto a vitrola como os discos eram do Wilson (irmão do João) que eu já conhecia por ser namorado da Maura que, por sua vez, era amiga da tia Zazá.
Disseram-me que só ele poderia autorizar o intento que eu estava pretendendo.
Não acreditei muito na desculpa, mas aceitei e já programei um ataque de pedidos ao dono da rara preciosidade.
Mal cheguei em casa naquele dia, deparei-me como Wilson que, coitado, foi bombardeado com mil pedidos.
Pedi tanto que ele não teve mais como negar e me concedeu a permissão de que sempre que estivesse na sua casa poderia ouvir seus discos em acetato e 75 rotações por minuto (RPM).
Muito cara de pau pedi, ainda,que ele avisasse a todos da sua autorização.
No dia seguinte, depois das aulas que eram matinais, almocei e fui fazer uma visita à Da. Anita.
Cheguei, cumprimentei a todos e perguntei se o Wilson havia informado da sua autorização, sendo informado que todos estavam cientes, fui direto para a maquininha e a Lucia me acompanhou.
Foi a primeira de muitas tardes musicais. O gosto do Wilson era refinado e na maioria das vezes casava com as minhas preferências musicais. Um dos cantores preferidos era o já famoso Dick Farney, e na voz dele, ouvi muitas vezes um samba-canção intitulado Ponto Final. Ouvi tanto esse disco que a agulha quase chegou a furá-lo.
Minha tia, um dia casou-se com o João e a Maura casou-se com o Wilson, a vitrola mudou de endereço e eu não pude mais operá-la, mas a lembrança das tardes musicais ficou registrada em minha alma, principalmente a musica Ponto Final.

2.11.09

BONDE DA
FELICIDADE II

Embora já tivesse lido aqueles reclames por mais de uma centena de vezes, ele continuava com o olhar fixo nas mensagens e lia “veja ilustre passageiro o belo tipo faceiro que o senhor tem ao seu lado.

No entanto acredite, quase morreu de bronquite, salvou-o RUM CREOSOTADO”, “Prevenir acidentes é dever de todos”, Para a saúde da mulher, Regulador Xavier”, “um cruzeiro, dois cruzeiros, papai vai dar pra mim! Vou guardar o meu dinheiro no Kanguru Mirim”...

Lia seguidamente esses reclames e permanecia alheio a tudo mais que se passava à sua volta.

Não via nem ouvia o burburinho dos jovens que falavam e brincavam enquanto o bonde seguia sua viagem em busca do ponto final... Foi então que na sua frente surgiu uma linda e loira mulher que com um sorriso tímido lhe perguntava o destino daquele bonde.

Ele, impressionado com a beleza alva da pele daquela deusa, impressionado com a figura marcante daquela mulher imaginou-se alguns anos mais novo e ousado para soltar um pequeno galanteio e, sem conseguir travar sua língua, num repente audacioso, balbuciou num sussurro quase sem voz “desejo”...

Ela, sentando-se no lugar vago ao seu lado, deixou transparecer por entre os lábios um sorriso que ele, calcado nos seus conhecimentos práticos, entendeu como um consentimento silente aos seus arroubos, e num só fôlego murmurou “desejo sim, de ter você a meu lado, pelo menos até o ponto final desta viagem”.

Mais uma vez aquele sorriso sincero, enigmático e recatado surgiu em seu semblante. Nada disse, mas, também nada fez e nem mudou de lugar, embora outros lugares já estivessem vagos.

Ele não obtendo uma resposta verbal, mas decifrando com sua experiência de anos de batalha, entendeu que uma pequena fresta se abrira na porta de seu destino, coisa que nem ele acreditava ser possível.

Porém, como sempre tivera confiança em si próprio, pressentindo aquela pequena, mas consistente possibilidade voltou a olhar fixamente na moça sentada a seu lado, e pronunciou em voz sussurrante:

- Desejo, sim, desejo que você continue esta viagem sentadinha a meu lado!

Ela, maneando a cabeça para o seu lado, disse-lhe, numa voz terna e sensual:

- Muita gentileza de sua parte... Aliás, parece que lhe conheço há mais tempo, só não me lembro de que lugar...

- Deve ter sido do deserto - Deserto? Como assim?

- Por que há muitos anos eu vivo num deserto imaginário, sem contato com ninguém, em eterna solidão. Então, sem mais nem menos, uma linda mulher sorri para mim, senta-se ao meu lado e diz que me conhece?

Compreendi então, que estava saindo do deserto e voltando à vida...

O velho sorriu e, no mesmo instante, deixou cair a máscara sisuda que há muito se instalara em sua cara, iluminando, de forma instantânea, seu semblante, até então fechado e sombrio.

Ela, sem duvidas, percebeu a transformação e demonstrou, nitidamente, ter gostado do que via.

Também, como se milhares de ouvidos pudessem ouvir o que iria dizer, aproximou seu rosto do rosto do velho e murmurou:

-Tenha certeza que irei até o ponto final...

Ao fazer a afirmação, de imediato, acomodou-se no banco, fazendo despertar naquele senhor, o desejo de continuar sonhando e puder ver a beleza das coisas, das pessoas, da natureza e das suas nuances.

Ele sentiu-se em plena juventude, como se fosse o seu primeiro amor, tal era a sensação que ela passava, seu coração acelerava, adrenalina alcançava o mais alto vôo de desejo.

Horas pensava em se tocar, horas pensava em gritar bem alto, para que o motorista pudesse ouvi o seu pedido, queria, queria muito que aquele

Bonde não parasse, pois sendo assim, ele ganharia tempo para a sua conquista enrustida, porém com um único objetivo deixá-la florescer e desabrochar como acontece com as flores na primavera.

As horas corriam como se tivesse horário marcado com o desencontro. A sua angústia aumentava e sem querer timidamente segurou as suas mãos e pediu-lhe que aceitasse um café na sua casa e que logo a levaria ao seu destino.

A jovem desconhecida agradecida e muito feliz aceitou o convite daquele senhor, que parecia tão só e sincero, como nunca havia encontrado alguém parecido.

Ela com suas decepções, seus desamores estava indo em busca de novos horizontes para aliviar as dores que lhe acometia, queria encontrar a sua felicidade em outros lugares. Chegando ao ponto final, ele desceu os degraus do Bonde e se posicionou como um cavalheiro dando-lhe as mãos para que ela descesse com segurança.

Apanhou os seus pertences e a fez acompanhá-lo lentamente para que o tempo se se apieda dele dando-lhe oportunidade de continuar aquela conquista, que até então não estava descartada.

Chegando a casa acomodou a bagagem, pegou-a pelo braço delicadamente e apresentou-lhe a sua humilde moradia, simples no mobiliário, mas de uma limpeza incontestável.

Pediu-lhe que acompanhasse até a cozinha, pois faria o “café” que havia lhe prometido.

Logo em seguida sem muito jeito ofereceu-lhe o banheiro para que ela pudesse se banhar, o calor insuportável a fez aceitar.

De repente ela desponta banhada, de cabelos lavados, cheirosa como a primavera expelindo sensualidade pelos os poros, ele observava-a, e se deleitava, só em pensar possuí-la.

Pediu-lhe, licença e foi ao seu banho costumeiro, porém diferente, tinha que haver algo que também a despertasse fez a barba minuciosamente, aparou os pelos dos órgãos penistencios e se fez perfumado, colocou uma camiseta verde claro nas cores da esperança daquele sonho vir a ser concretizado.

No silêncio do seu banho, se perguntava o tempo todo, por onde começar? E se começar? E se ela me rejeitar, a sua cabeça fervia como se fosse um turbilhão, depois de um banho frio voltava mais aliviado, é claro!

Dando continuidade a sua conversa... Indagou-lhe, sobre os seus familiares, ela sem muito que falar baixou a cabeça e respondeu-lhe não os tenho, só sozinha que nem o senhor sou professora e vim para cá em busca de trabalho e fugindo de uns problemas que me afligiam. Ficarei numa pensão.

O senhor conhece alguma por aqui que possa me indicar. Sim! Mas já era noite e ele ainda não havia concluído o seu desejo da conquista, ansioso que as horas passassem rápido para que não houvesse tempo de procurar mais nada.

Veja que contraste, no Bonde pedia que a viagem não acabasse nunca e ali diante daquele sonho pedia que as horas passassem correndo para ele prender aquela jovem ali tão perto dos seus braços. Preparou algo, para comerem, ela sentia-se perdida presenciando aquele ritual de um dono de casa exemplar, coisa que para ela era alheio, mal sabia preparar um café.

Ele manso, educado, simples no falar e no agir, perguntava-lhe o que gostaria de degustar? Ela na sua modéstia de menina delicada e carente ficou a fitá-lo com carinho, a sua vontade era lhe dá um beijo de agradecimento por tamanha gentileza e atenção. Sem muitas delongas, pediu-lhe licença e beijou a face daquele homem sisudo e ao mesmo tempo tão delicado e amoroso, dizendo-lhe como é belo o senhor.

Obrigada pela a sua amizade e bondade, já sabendo ela da sua segunda intenção, mesmo porque ninguém faz nada de graça sem que tenha um retorno e que retorno, vermelhinho como tomate seco ele ficou, tamanha a sua emoção.

Após o jantar ele preparou o quarto e a convidou para que passasse aquela noite ali com ele, pois se sentia também muito sozinho. Sem pensar, e pelo cansaço da viagem aceitou. Só que no seu ítimo já passava a mesma sensação de excitação por aquele jovem há mais tempo e a carência que se fazia presente.

Já era tarde, falaram de tudo e foi chegado o momento cruciante do recolhimento tanto para um como para o outro, ambos naquele instante queria muito estar nos braços um do outro. Boa noite, boa noite, durma bem, você também.

No silêncio dos seus quartos, só ouvia o rolar pra lá rolar pra cá e eles inquietos não conseguiam conciliar o sono. Ela levantou-se e dirigiu-se ao quarto dele, bateu na porta lentamente e perguntou-lhe? Já dormiu? Não! E você está sem sono? Sim! Nessa altura seu coração não batia mais, estava disparado, como se fosse uma competição desenfreada, vence o melhor e naquele momento ele desejava o melhor para ele e também queria levá-la aos céus com os seus beijos e preliminares se possível fosse, diante do envolvimento e do fogo que lhe abrasava, restava-lhe apenas o controle e esse, estava fugindo do seu alcance. Dizia ele quase sussurrando, vamos pode entrar, já mais solto, pediu-lhe que sentasse a sua cama e com muito cuidado começou a pegar nos seus cabelos com mãos tremulas querendo acariciá-los passando-lhe somente à vontade de possuí-la.

Quando ela se voltou para ele os seus lábios já buscavam a sua boca num beijo ardente no mais puro e profundo encontro do prazer, seus corpos tremiam de emoção, a loucura da entrega era fatal, sem preliminares os dois ardiam em febre do consumismo do amor, tinham sede de unir os seus líquidos num desejo , se sentirem amados e não mais sozinhos na vida.