29.8.09

AVENTURA DA ONCINHA BALONE

O titulo pode ser esquisito, mas ao longo do relato poder-se-á verificar a aplicabilidade do mesmo.
A estória é recente. Ela (reservo-me o direito de não citar seu nome no intuito de evitar polêmicas caseiras) tinha chegado um dia antes. Trouxera na mala, alem das roupas que pretendia usar na rápida viagem de fim de semana, um traje mais adequado para usar naquela noite antes do passeio quando iriam, ela e seu companheiro, a um baile especial.
Era noite de quinta-feira, o dia tinha sido de rápidas saídas. Fora a um salão de beleza se embonecar para o evento e, agora, se preparava para tomar um belo e relaxante banho e, depois, se arrumar para a investida noturna.
Tudo pronto. Ela toda esfuziante no seu vestido “tomara que caia balone” estampado como se pele de onça fora, aguardava apenas o andamento do relógio para sair, quando começou a chover. Era uma chuva miúda no início, depois, bem, depois começou a engrossar e engrossava cada vez mais.
Decididos a não se deixarem abalar pelas mutações climáticas, guarda-chuva preparado, saíram para o tal baile. Ele, todo cuidadoso, lembrou-se que o local onde estacionavam o carro não era calçado ou pavimentado e, então, recomendou que ela levasse uma sandália baixa para usar quando de volta da noitada e não atolar o saldo 7,5 de seu sapato no barro que haveria de se formar. Foram de carro e no trajeto a chuva cada vez caia com mais volume.
Chegaram a frente ao salão e com manobras quase que circenses conseguiram adentrar ao mesmo sem maiores consequências por causa do temporal que teimava em continuar desabando dos céus.
No salão a música tocava e os pares dançavam irradiando alegria. Nosso casal central, instalado em uma mesa de pista já havia bebericado algumas cervejas e mastigado alguns petiscos, apreciava a tudo e se divertia a valer.
Eis que é chegada a hora de retorno ao lar. A conta é paga, as despedidas estavam sendo feitas quando ao olhar por uma das janelas eles percebem que a chuva de antes tinha dado lugar a um verdadeiro vendaval.
Os céus derramavam jorros de água enquanto o vento zunia forte. Chega um conhecido e muito reservadamente pede uma carona ao casal que, de imediato aquiesce.
Tentam, então, sair, a enxurrada na rua é enorme. Só alcançam o carro com a ajuda das vigilantes que, munidas com enormes guarda-sóis, se esforçavam em evitar que o banho de chuva fosse totalmente consumado.
Já alojados no carro, começam a etapa de retorno. Ela, ao volante, se esforçava em distinguir a via carroçável das calçadas já que na maior parte do trajeto o alagamento era constante. Enfim, entregam o carona. Despedem-se dele e continuam a aventura de chegar ao lar.
Enfim, depois de várias freadas e sustos, chega o casal ao portão do estacionamento onde deveriam guardar o veículo. Iniciam uma pequena discussão para decidir quem deverá abrir o portão. É um portão de madeira, enorme e mal construído. Ele desce do carro e, depois de idas e vindas consegue abrir as duas folhas do portão.
Ela avança com o carro e o estaciona. Ele vai ter com ela e aguarda, pacientemente, ao lado do veiculo, brigando com o vento que teima com seu sopro forte revirar a pequena peça ao avesso. Ela lá dentro, primeiro troca os sapatos de salto alto pela sandália que emergencialmente fora sugerida. Ele continua aguardando, ela ainda continua dentro do carro, agora tentando acionar uma pequena lanterna que tinha certeza era auto carregável, e nada da pecinha funcionar.
Ele reclama, chama e ela, afinal resolve sair mesmo sem qualquer raio de luz. O vento continua soprando, o guarda-chuva continua sendo retorcido pelo vento, ele continua sendo molhado pela chuva e ela, pacientemente tenta acertar a chave para fechar a porta do carro.
Pronto, carro fechado, eles se direcionam para a saída. Ela toda prestativa avisa que o ajudará a fechar o enorme portão, ele se recusa a aceitar a ajuda e apenas quer que ela segure o guarda-chuva. Ela impetuosamente se agarra a uma das folhas do portão e tenta trazê-la para o lugar onde deverá se encontrar com a outra folha. Lógico sua força não é suficiente para completar a tarefa a que se propunha e, numa lufada maior de vento, lá se vai, de volta à posição anterior, a folha do portão de madeira muito encharcada da chuva e pior, levando com ela, devidamente estatelada aquela figurinha feminina vestida com um tomara que caia balone no padrão de oncinha.
Ao olhar a cena ele teve quase a certeza absoluta de distinguir uma oncinha devidamente estampada nas grades de uma jaula de madeira, como se fora um desenho animado. Prendeu, com muito esforço, a gargalhada que lhe coçava a garganta, pois tinha certeza de que se ela aflorasse a briga seria de conseqüências incontestáveis.
Pronto, portão fechado, oncinha balone recomposta, dirigem-se para casa. Ela na frente segurando o guarda-chuva, ele atrás, segurando a risada. Na ânsia de ser prestativa ela ainda estanca e abaixa-se no corredor do prédio. Ele pergunta o que ela esta pretendendo fazer e ela responde que ira tirar o protetor do ralo para que não ocorra uma enchente no corredor. Já sem um pingo de paciência ele ordena que ela se recomponha e siga em frente, para o apartamento. Ela percebendo a irritação que dele se assomara, não discutiu e foi em frente.
Passados alguns minutos, depois de já estarem resguardados entre as quatro paredes e o teto do lar, o assunto veio à baila e aí, então, nenhum dos dois conseguiu dominar as gargalhadas que saíram sonoras e debochadas por mais de uma hora.
Foi, apesar de tudo, uma noite muito agradável e engraçada.
Ah! O vestido de oncinha não estragou. Foi guardado para, quem sabe, uma nova noite de aventuras.

16.8.09

COM O MUNDO SOBRE OS OMBROS
Nós, seres humanos, somos tremendamente esquisitos. Criticamos todos os semelhantes e todas as coisas que se posicionem ao nosso redor ou, pelo menos, se nos apareçam, mesmo que de relance, no nosso caminho.

Somos assim mesmo. Na maioria das vezes damos muita atenção a coisas que não nos dizem respeito em detrimento aos nossos próprios problemas.
Lógico, há quem proceda de forma normal e há quem proceda de forma totalmente anormal.
O querer ser solicito, se extravagante, pode redundar em males inimagináveis ao individuo, ele acaba se abstendo de zelar por si e somatiza todas as agruras daqueles que pretendia ajudar.
O pior é que todo individuo que se presta a agir dessa maneira, vai desenvolvendo uma habilidade monstruosa de querer ser útil que, invariavelmente, cada vez mais potencializa seus insucessos e, transforma suas frustrações em problemas estressantes.
Geralmente, deparamos com pessoas que agem dessa forma e não buscam minimizar suas ações de “bondade humanitária”.
Eu, na minha quase total ignorância, aprendi, mercê das minhas necessidades profissionais, a separar e isolar problemas.
No inicio da carreira como Consultor, era obrigado a ficar isolado da família (na época esposa e duas filhas) pelo período de uma semana quando o trabalho contratado estava situado até um raio de 500 km da sede e, por três semanas quando tinha que trabalhar fora com quilometragem acima.
Tinha que dedicar toda a atenção possível ao trabalho que estava executando. Então, no domingo à noite quando eu vencia o limiar da porta de minha casa para iniciar uma viagem, junto com o fechamento da porta eu fechava meus problemas familiares, minha esposa e minhas filhas. Dali para frente, por todo o tempo que eu estivesse fora, minha esposa, teria de cumprir nesse ínterim o papel de pãe (pai e mãe), resolver os problemas surgidos e, quando muito trocar uma idéia sobre eles comigo, por telefone, à noite no hotel onde eu me hospedava. Telefonema rápido, pois a comunicação era cara e corria sob minhas expensas.
Assim, às duras penas aprendi a selecionar minhas preocupações, coisa que muitos, por mais que tentem, não consigam obter êxito.
Pior, ainda, são aqueles que além de não conseguirem administrar seus problemas, se apiedam com os problemas de terceiros Ed acabam se envolvendo de tal maneira que ao final estão sofrendo mais que os portadores do referido problema. Conseguem somatizar os problemas de tal maneira que acabam até adoecendo, e os causadores dessas situações, ao final, acabam até menosprezando esses coitados apregoando aos quatro cantos que prometeram e não ajudaram.
É necessário que um ser vivente assomado com problemas seus ou mesmo de terceiros, saiba buscar as soluções com racionalidade e coerência. Não obtendo a solução esperada, deve abrir mão da tentativa e esperar que o tempo, um terceiro ou, ainda, o acaso apresente a solucionática necessária.
Como dizia bem dito minha avó: “- O que não tem remédio, remediado está!”
Na atualidade temos como obrigação primária, viver da melhor forma possível, ajudar sempre que possível e sofrer por razão própria ou de terceiros NUNCA!

10.8.09

MEMÓRIAS DA QUERMESSE

Eu não pretendia voltar ao assunto em respeito aos meus leitores de apetite mais afoite e a outros leitores demasiadamente adeptos a uma festança, porem, instado demasiadamente por uma centena de leitores (né Ana Lucia?), decidi voltar ao assunto e prestar meu sincero depoimento sobre a festança que participe no ultimo dia 1º. de Agosto no meu tradicional bairro do Bixiga. Então, vamos ao relato: EVENTO: Inauguração da 83ª. Festa de N. S. ACHIROPITTA, acontecida dia 1º. De Agosto de 2009. Conforme já narrado no texto anterior, euforicamente, me preparei para, voltar á festa depois de quase 50º anos de ausência. 50 anos? Nossa como passa o tempo e a gente nem percebe, me lembro que a ultima festa em que eu participei foi por volta de 1959, quando eu, solteirinho das silva, membro ativo dos Duques de Piu-Piu, após a sessão de domingo no Cine Rex, arrematei no leilão beneficente, em plena Rua 13 de Maio, 1 garrafa de vinho Sangue de Boi que foi imediatamente aberta e consumida. Então, como Bixiguento orgulhoso, veterano das quermesses da Igreja, fui comandando a nossa comitiva composta de 4 pessoas (eu, a Soninha, minha cunhada Claudia e a Kátia, filha da Soninha e, lógico, minha filha assumida). Fomos no carro luxento da Claudia. Ela ao volante e eu, como cicerone assumido, pensando conhecer tudo do que resta ainda do velho Bixiga. Quebrei a cara! A festa que me chegava à memória acontecia na Rua 13 de Maio entre as quadras da Rua Manoel Dutra / Rua Conselheiro Carrão, então tentei chegar perto da festa pela rua Dr. Luiz Barreto. Não deu, a muvuca estava por todos os lados, Dei a ordem de retorno para buscar nova alternativa, meu Deus que coisa horrível, todas as ruas estavam na contramão. Sofrendo a maior gozação das lindas senhoras que me acompanhavam, fui obrigado a fazer um tour bem mais longo, retornamos pela rua Marques Leão, entramos na rua Dr. Seng, Rua Silvia, Rua Itapeva, Rua Rocha (novamente) Praça 14 Bis e, finalmente, Rua Manoel Dutra, até um estacionamento mais próximo da Rua 13 de Maio. Carro estacionado nos dirigimos até a Cantina Oficial. A missão, dito assim parecia simples, o difícil foi vencer a multidão que imobilizava o transito na extensão da festa. Era um mar de gente impedindo o avanço de quem quer que fosse. Eu, coração apertadinho, olhava no rosto de todos na tentativa de achar velhos bixiguenses, amigos ou conhecidos de outrora e nada! Será que só eu havia subsistido à força do tempo? Depois de vários esbarrões, de vencer a massa humana que em fila ordenada aguardava a vez de comprar uma “fogazza”, chegamos ao salão principal ao lado da Igreja. Encontramos a amiga da Claudia que estava nos aguardando com os convites e entramos na Cantina. A festa era típica da italianada alegre que falava alto e gesticulava falando. Senti-me em casa mesmo não encontrando caras conhecidas. Achamos nossa mesa, depois de nos acomodarmos partimos para os finalmente. Claudia e Kátia foram para a fila da “bóia” no intuito de aliviar este convalescente da longa espera. Quando, finalmente, elas estavam próximas da grande mesa, nos avisaram e fomos eu e a Soninha para a fila também. A mesa posta para que os convivas se servissem estava, realmente, apetitosa. Meus olhos, famintos, pousaram sobre os imensos pratos de ante-pastos à base de berinjela (morinhana para os oriundis como eu) preparadas de várias formas. Servi-me de todas as variedades, pimentões também foram para o prato, as maioneses e saladas verdes foram por mim dispensadas, cheguei, então, na parte dos queijos e frios, Salaminho, queijos parmesão e provolone, eu apanhei de montão. Para concluir a mesa me servi de azeitonas pretas enormes e divinamente saborosas. Cheguei em frente a mamma que servia o pão italiano e as polentas fritas tive que voltar para mesa sem a polenta. Não venciam fritar os pedaços. Enfim, pratos astronomicamente recheados, fomos para nossa mesa e, nos fartamos de comer na companhia de 2 garrafas de Lambrusco geladerrimo, alguns refrigerantes e águas. Ah! as massas eram servidas diretamente nas mesas e com minha gula já mais do que saciada, abri mão de experimentar os iguarias. A alegria pairava no ar. A “Banda Felice Itália” enchia o ambiente com as canções napolitanas de todos os tempos, os grandes sucessos de Rita Pavone, Endrigo, e outros tantos cantantes italianos e de Tarantelas animadíssimas, nas lindas vozes de Paulo Walter Spartani e Ingrid Nagçieri. A pista de danças, totalmente lotada por alegres bailarinos que tinham ido para realmente se divertirem, pululava e palpitava acompanhada de inúmeros pandeirinhos acionados por todos os demais que não haviam conseguido chegar até a pista, mas queriam entrar no clima e participar das danças e da alegria. No intervalo das musicas, o Mestre de Cerimônias promovia os leilões das prendas e brindes oferecidos por cantinas do Bixiga (pizzas, pães italianos, pernas de cabrito e outros que tais) ou por patrocinadores da festança. Os convivas presentes, à certa altura da festa, foram agraciados por um show musical nas vozes dos 3 Tenores Brasileiros, Antonio Guido (Nino) Valsani. Armando Valsani e Francisco Romanelli, fizeram um espetáculo digno da festa. Vozes lindíssimas e musicas Maravilhosas. Minha cunhada Claudia, satisfeitíssima por ter ouvido e dançado a musica “nhamo, nhamo, nhamo” (para ela) e “Funiculi Funicolá” para o resto do mundo, por volta da ½, com medo de se transformar em abobora, deu o comando de retirada. Por estarmos de carona e dependendo dela concordamos e fomos embora. Foi maravilhosa a festa e meu retorno a ela delicioso e surpreendente. Recomendo a todos para que façam uma forcinha e passem uns instantes felizes naquele ambiente. Vale a pena!