23.4.08

OUTRAS MEMORIAS TEATRAIS

OUTRAS MEMÓRIAS TEATRIAS Volto novamente a sentir cócegas na memória, sinto o cheiro dos camarins, da base com que os atores buscam disfarçar o suor, o cheiro do pó acumulado por detrás das coxias, o cheiro da tinta que pintou os cenários. Sinto calor das luzes, a claridade dos canhões de luz me iluminando a figura lusitana da época do descobrimento, e me vejo segurando com ambas as mãos um pergaminho e a declamar um texto de Pero Vaz Caminha em um sotaque aportuguesado que começava assim: “-Magistadi, aqui, nesta terra, em se plantando tudo dá...”. Era uma das cenas do espetáculo “Teatro para a Juventude”, um projeto da grande atriz Nydia Licia com a direção do saudoso Libero Miguel, que tinha entre outros participantes, o agora famoso e global Osmar Prado, a cantora Tuca, que tão cedo se mudou para o andar de cima, o ator Alceu Nunes, Marcelo Gastaldi que depois se tornou o rei das dublagens, este que escreve esta crônica e vários outros, encenados nos palcos do Teatro Bela Vista. Falar em Nydia Licia é falar de uma das principais damas do Teatro Nacional. Foi casada com o grande ator Sergio Cardoso que com ela pisou várias vezes na ribalta do Teatro Bela Vista. Da. Nydia, como respeitosamente a chamávamos, sem precisar, provava a cada momento sua imensa capacidade, sua inconteste dedicação, seu amor pelos projetos abraçados. Com poucas palavras explicava o que desejava de cada ator. Nunca se axaltava e se preciso fosse, repetia as cenas por diversas vezes até chegar bem próxima da sua idealização. Era, realmente, fabulosa. Era? Não sei! Gostaria de saber se ainda vive. Se ainda reside no Ibirapuera, na Rua dos Bombeiros. Será que obterei essa informação? Eu vivi nessa época, raros momentos de felicidade e plenitude, fazendo aquilo que gostava e me realizando. Mesmo atravessando uma época bastante estressante da minha vida, pois e pai de uma linda menina, estava desempregado e lutando, ingloriamente, pelo pão de cada dia, verdadeiramente de cada dia, mas quando pisava o solo daquele ambiente sagrado, as tristezas se esvaiam, e o prazer maior se alevantava. Libero Miguel, figura marcante, magro como um fio de arame meio retorcido, vibrante como um trovão no meio da tempestade, competente como poucos. S e visto por um desconhecido não seria classificado como um competente homem do teatro, cinema e televisão brasileiros, tão comum era a sua estampa. Muitas lições me passou. Muitos ensinamentos sobre a arte teatral eu obtive com esse grande diretor. Alem da parte artística do projeto, a área administrativa era comandada pelo Sr. Renato, que ao final de cada espetáculo dominical, passava distribuídos nosso pequenos, mas gloriosos cachês. Foi lindo! Tenho saudades.

3 comentários:

  1. amore... bom te ler.
    bom ler suas memórias. e amei o seu bloguinho novo que ainda n tinha visto. coisa boa te visitar.
    beijinhos... vou ler os outros post.

    Dira
    (http://diravieira.zip.net)

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  2. É tudo verdade? Não é ficção? Eu fiquei orgulhosa e feliz em sabê-lo "ator", pisando um palco de teatro, comandado por Nydia Lícia!
    Que novidade deliciosa!
    Vibrei. Acho que sou tiete de ator de teatro...sempre!!!!
    Beijos, meu ator.
    Dora

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  3. Amigo MC Miguel!

    Até janeiro deste ano, quando foi lançado o livro Eu vivi o TBC, a grande Nydia Licia ainda era viva, já com seus 82 anos, muitíssimo bem vividos. Creio que ainda ande pelos palcos de São Paulo, no mínimo como inspiração e exemplo.
    Ela é da safra de grandes intérpretes teatrais como Cacilda Becker, Cleyde Yaconis, Sergio Cardoso, Paulo Autran, entre muitos outros. Todos frutos do TBC.
    Parabéns por, de certa forma, ser um dos frutos dessa atriz que tanto fez pela nossa cultura.
    Grande abraço,

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vamos prosear ou poetar?