30.11.08

MEMÓRIAS MOTORIZADAS

Fecho os olhos e relembro das minhas “façanhas” atrás do volante daquele meu fusquinha 1950 (importado) quase todo original.

Era um carro resistente, só me deixava na rua por falta de combustível, como era econômico eu me esquecia de abastecê-lo e não tendo os recursos da modernidade, não tinha também o mostrador de combustível. Somente tempos depois fui descobrir que ele tinha um tanquinho reserva para asa horas de aperto e que era acionado com o deslocamento de uma chaveta ao lado da alavanca do cambio. Esse recurso permitia ainda que eu rodasse uns 20 kilometros, daí nunca mais fiquei na mão.

Uma das poucas vezes que o fusquinha me deu problema na rua foi durante uma das minhas ousadias eu, por sinal, será o pano de fundo desta memória.

Eu havia gostado de dirigir sem documentação de motorista habilitado (razão de muitas brigas com minha esposa), então cada vez me arrojava mais.

Um dia tive que participar de uma reunião noturna e combinei com minha esposa que ela deveria ficar à minha espera na casa de uma tia dela no bairro de Moema, pois como a reunião seria no Jabaquara, assim que eu estivesse livre passaria por lá apanharia ela e as duas filhas e iríamos para casa.

Devidamente combinado, fui para o compromisso que demorou acima do previsto e terminou por volta das 22h00min horas, apanhei o fusqueta e fui buscar minha família e todas as tralhas que nos acompanhavam a cada saída já que minha filha mais velha estava com 4 aninhos e a mais nova na época tinha menos de 1 ano.

Lá chegando encontrei também com o noivo de uma prima da minha esposa que morava no Bixiga, como eu deveria ir para o Sumarezinho ofereci carona a ele que aceitou de imediato.

Levei-o, então, até a Rua Dr. Seng e lá chegando decidi que meu trajeto até em casa seria o seguinte: Ruas São Carlos do Pinhal, Antonio Carlos, Bela Cintra Matias Aires, Maceió, Angélica, Novo Horizonte, Minas Gerais, Dr. Arnaldo, Heitor Penteado, Cerro Cora e, ponto final.

Decidido o trajeto, acelerei o carrinho e segui bem frente, já na Rua Maceió deparei com um transito fora do normal para àquela hora, mas fui em frente, embiquei a frente do carro na Avenida Angélica e senti um arrepio na espinha, estava dentro de um dos grandes comandos que se realizavam naquela época. Todas as armas trabalhando em conjunto, eram os anos de chumbo, PM, Policia Civil, Aeronáutica e Exercito em busca de contraventores de transito, terroristas, bandidos e tudo mais que caísse na rede. E eu, transgressor do transito, havia caído na rede...

O pior era que alem da multa, do carro guinchado, do maltrato das minhas filhotas, teria ainda de ouvir a dona da pensão falando o que bem entendesse nos meus pobres e humanos ouvidos... Ninguém merecia isso, muito menos eu.....

Usando a primeira marcha, fui avançando da forma que o transito permitia, ouvindo os apitos frenéticos dos guardinhas e vendo os carros da frente serem revistados de cabo a rabo.

Eis que, senão quando, o fusca deu uma tossida e morreu. Dei na partida (era um botãozinho no painel) por diversas vezes e ele nada de responder. Os carros da minha frente já estavam indo embora, os carros de trás querendo andar e o fusca parado... Os guardas apitavam me mandando avançar e eu, depois de muitas tentativas, sai do carro e comecei a fazer força para empurrá-lo, depois de algumas tentativas infrutíferas, chamei alguns militares, expliquei que havia dado pane e que o motor não queria pegar.

Eles constatando a minha “aflição”, confirmando a existência de minha querida esposa e filhas, e não tiveram duvidas, me ajudaram a empurrar o carro para a calçada onde estacionei à frente de um prédio, esperaram eu pedir ao guarda do prédio que vigiasse o carro enquanto ele ali ficasse. Chamaram um táxi quer estava parado para ser vistoriado, me ajudaram a mudar minha família e todos os cacarecos de dentro do carro párea o táxi, liberaram o táxi da vistoria e me desejaram, ainda, um feliz fim de noite.

Livre do comando fui embora para casa e no dia seguinte fui com o mecânico até o fusca e constatamos que a parada havia sido por causa de uma pane no dínamo. Mandei fazer o reparo que ficou, com certeza, muito mais barato do que as multas que eu merecia e iria levar.

Eta Santo Forte eu tinha.....