Juro por tudo quanto é sagrado que nunca pensei um dia estar escrevendo memórias deste naipe. A gente, com o passar dos anos, se acha imune a qualquer tipo de ocorrência maléfica da saúde. Consideramos-nos verdadeiros predestinados à vida eterna.
De repente, não mais que de repente, o inevitável acontece. Então percebemos o quão frágil somos perante os desígnios do destino. Hoje eu sei que é assim.
Dia 18 de junho PP, uma quinta-feira sem maiores predicados a não ser da maravilha de ser véspera de sexta-feira o final de mais uma semana.
Estava eu na empresa a quem presto trabalhos profissionais. Do nada comecei a sentir tremores de frio. Pensando estar em estado gripal, aguardei para ver se uma melhora acontecia.
Nada, os tremores e o mal estar continuavam. Resolvi, então, contra minha vontade, ir embora para, já em casa, medicar-me melhor e me restabelecer.
Comuniquei aos demais a minha decisão e sai. O trajeto entre a empresa e a estação do trem em Ferraz de Vasconcelos é pequeno, mas, não me animei em percorrê-lo como das outras vezes, solicitei que um taxi viesse me buscar.
No trajeto dos trens até a Estação da Luz pareceu que eu já havia me recuperado um pouco. Desci do trem, dei uns dois passos e por uma fração de segundos o mundo saiu de baixo dos meus pés. Cai sentado.
Recobrei minha consciência e me vi amparado por seguranças da CPTM que assistindo meu tombo concluíram que eu não estava em condições físicas ideais, ma ajudaram a sentar numa cadeira de rodas e me informaram que estavam me levando para o PS da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e assim o fizeram.
Ainda meio desnorteado me vi entrando no OS, respondendo perguntas aos enfermeiros e médicos que vieram em meu socorro. Meu celular estava no bolso e usei-o para chamar minha companheira e avisá-la do ocorrido depois, bem depois não me lembro de mais nada.
Só me lembro do desespero da Sonia quando entrou no OS e me localizou. Eu estava em condições nada agradáveis, principalmente para ela que sempre me havia visto ereto, forte, alegre.
Ali naquele banco do PS eu estava largado, abatido e todo urinado.
O adiantado da hora, já havia sem passado umas quatro horas da ocorrência, e o meu estado não permitiu que ela tivesse qualquer duvida e, imediatamente, chamou meu filho que, por sua vez, convocou as três irmãs e foram ao nosso encontro.
Minha filha Rossana é instrumentadora médica e graças a isso reconheceu depois de algum tempo um médico que ela tinha conhecido por conta de seu trabalho profissional. Aí, então, as portas puderam ser abertas e eu fui internado para averiguação.
Na averiguação que, diga-se de passagem, foi de excelente qualidade já foi confirmado que eu havia sofrido um AVC de pequenas proporções, no cerebelo.
Sequelas não foram constatadas, mas eu precisava ficar internado em observação.
A Santa Casa de Misericórdia da São Paulo é uma instituição escola e o corpo médico de estudantes e professores é de excelente qualidade e a equipe que recebeu meu caso era composta de profissionais dedicados e de alta capacidade.
Quando o mal se instala, podem crer, não se instala sozinho. No meu caso, alem do problema do AVC eu fui atacado por uma infecção bacteriana na perna esquerda que deu muito mais trabalho e sofrimento do que o próprio AVC.
Minha perna ficou inteiramente coberta de bolhas que depois da minha alta hospitalar vieram a estourar e se transformaram em pústulas enormes prejudicadas, ainda, pelo meu diabetes.
Hoje, passados quase 30 dias do ocorrido, ainda me mantenho sob repouso total buscando a cicatrização total das feridas originadas do ataque bacteriano e, para não me fazer esquecer o susto, tenho uma enorme e constante dor na bunda, principalmente na banda da direita, resquício da queda provocada pelo AVC e que espero, depois de curado dos outros males, uma fisioterapia poderá resolver.
Outras memórias deste piripaque serão relatadas nos próximos dias, essas, porém mais engraçadas.
Aguardem!
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