PESCARIA MAL SUCEDIDA
Final dos anos 40, a molecagem era minha principal atividade. Era praticada na Rua Augusta onde eu morava e nas imediações, diga-se de passagem, que eram definidas muito além de minha residência.
Na Augusta, mesmo diante das traquinagens, eu tinha a mão do velho Ministrinho, outrora grande craque do Palmeiras e da Itália, agora simples sapateiro, alisando minha cabeça de moleque.
Um dia, estava eu na casa do amigo-irmão Zilando, na Rua Marques de Paranaguá, quando surgiu a idéia de promover uma pescaria. Onde? No laguinho que ficava na Praça Buenos Aires (hoje Parque Buenos Aires) nas imediações da Avenida Angélica e da Rua Maranhão, próximo do Estádio Municipal do Pacaembu.
As carpas coloridas que lá nadavam não seriam nossos alvos, nosso alvo de pesca seria as centenas de alevinos que por ali nadavam. Queríamos obter alguns exemplares vivos para tentar completar sua criação em casa.
Idéia aprovada nos armamos com latas de óleo devidamente furadas que substituiriam as peneiras e de vidros para acondicionamento dos exemplares pescados e saímos em expedição até o local de nossa pescaria.
Lá chegando, assuntamos as redondezas tentando localizar o vigilante da praça sem encontrá-lo ficamos mais tranquilos e partimos para nossa missão.
Estávamos em plena atividade, alguns alevinos já nadavam nos vidros quando um longo e estridente apito foi ouvido. Esse apito foi seguido de um brado rancoroso que dizia “espara lá moleques, que eu já os pego”.
Que esperar que nada, saímos em desabalada carreira, atravessamos a Avenida Angélica, alcançamos a Rua Itambé, entramos por trás do Mackenzie, e alcançamos a parte florestal daquele instituto de ensino onde, claro, tínhamos nossa casa em cima de uma arvore.
Começamos a subir na arvore, mas os deuses do dia não eram nossos aliados.
O caseiro do Mackenzie, que já havia nos prometido uma lição, nos surpreendeu munido com uma espingarda e dando tiros de sal.
Não me acertou nenhum tiro, nem o Zilando foi ferido, mas o susto dobrado quase nos fez sujar as calças (na época ainda curtas).
Correndo ainda, saímos pela “passagem secreta” para a Rua da Consolação e só paramos de correr, esbaforidos e muito suados, dentro da casa do Zilando.
Os peixes e todos os apetrechos? Foram jogados de lado assim que começamos nossa fuga.
Outra tentativa?
Não, decididamente eramos moleques, mas não éramos burros.
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