10.11.09

MEMORIAS DE UM PONTO FINAL
Década de 50, eu com meus 10/12 anos, residindo naquela velha e gostosa casa da Rua Augusta junto com minha Tia Neide e seus dois filhos e mais minha Tia Zaira (Zazá para os íntimos).
Éramos uma família abastada, mas vivíamos dentro dos padrões rigorosos da época, em casa, para distração e atualização tínhamos apenas o rádio, uma peça enorme mais parecendo uma capela de madeira, com olho mágico verde e um pedaço de pano cobrindo o alto-falante, vitrola ou apenas toca discos era supérfluo e, por isso, um sonho distante.
Minha Tia Zazá, moça tinha começado um namoro com aquele que viria ser seu esposo e, consequentemente, meu tio o João que morava na Rua Mathias Ayres.
Com o namoro as famílias começaram a se visitar.
Eu, entrudo e folgadão, logo na primeira visita, depois de ser apresentado à mãe Da. Anita, mãe do João, e à Myrthes, Neusa e Lucia, as irmãs, fui bisbilhotar e descobri uma vitrola semi-automática.
Já doido por musica na época, mas doidinho fiquei ao fazer a descoberta. Pedi para ouvir alguns discos e, como desculpa, ouvi que tanto a vitrola como os discos eram do Wilson (irmão do João) que eu já conhecia por ser namorado da Maura que, por sua vez, era amiga da tia Zazá.
Disseram-me que só ele poderia autorizar o intento que eu estava pretendendo.
Não acreditei muito na desculpa, mas aceitei e já programei um ataque de pedidos ao dono da rara preciosidade.
Mal cheguei em casa naquele dia, deparei-me como Wilson que, coitado, foi bombardeado com mil pedidos.
Pedi tanto que ele não teve mais como negar e me concedeu a permissão de que sempre que estivesse na sua casa poderia ouvir seus discos em acetato e 75 rotações por minuto (RPM).
Muito cara de pau pedi, ainda,que ele avisasse a todos da sua autorização.
No dia seguinte, depois das aulas que eram matinais, almocei e fui fazer uma visita à Da. Anita.
Cheguei, cumprimentei a todos e perguntei se o Wilson havia informado da sua autorização, sendo informado que todos estavam cientes, fui direto para a maquininha e a Lucia me acompanhou.
Foi a primeira de muitas tardes musicais. O gosto do Wilson era refinado e na maioria das vezes casava com as minhas preferências musicais. Um dos cantores preferidos era o já famoso Dick Farney, e na voz dele, ouvi muitas vezes um samba-canção intitulado Ponto Final. Ouvi tanto esse disco que a agulha quase chegou a furá-lo.
Minha tia, um dia casou-se com o João e a Maura casou-se com o Wilson, a vitrola mudou de endereço e eu não pude mais operá-la, mas a lembrança das tardes musicais ficou registrada em minha alma, principalmente a musica Ponto Final.