Amigos,
Desde ontem estou vivendo em turbilhão. É um misto de orgulho, vaidade e alegria que não consigo descrever com exatidão.
O motivo dessa eufórica experiência foi a noticia recebida ao final da tarde de ontem através de um email transmitido pelo CONSELHO COMUNITARIO DE SÃO PAULO, informando o resultado do VIII Concurso Literário “Cleber União Guimarães”, e me convidando para participar da premiação que será realizada dia 5 de Dezembro.
Com minha vaidade em alta eu não poderia me furtar de copiar a relação dos vencedores. Eis parte do email:
CONCURSO LITERÁRIO – PREMIAÇÃO
CONSELHO COMUNITÁRIO DE SÃO PAULO
PRÊMIO “CLEBER ONIAS GUIMARÃES” - 2008
PREMIADOS 2008 – PUBLICAÇÃO
RESULTADOS – CONTOS - 2008-11-04
ADULTOS - NACIONAL / EXTERIOR
1º Lugar: Oswaldo Pullen Parente (Nasc. 20/02/48)
(161) TRABALHO: “VENTO DE TRAVÉS”
SQN 203 Bloco H Apto. 508
Brasília – DF (Cep 70833 080)
Tel. (61) 8138-7998 (oswaldopullen@gmail.com)
Publicou dos livros, “22 poemas”, em edição própria, e “Alípio Doidão”, patrocinado pela Caixa Econômica Federal. É membro efetivo do Conselho de Cultura do DF, Membro da Associação Nacional de Escritores. Foi jurado do Concurso Machado de Assis de Literatura, do SESC-DF e ministra oficinas de literatura desde 2006.
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1ª Menção: Miguel Salvador Gabriel Chamas (Nasc. 26/05/40)
(255) TRABALHO: “O PONTO FINAL”
Rua Flórida, 488 Apt. 23
Praia Grande - SP (CEP 11708 – 040)
Tel. (13) 3493-8359 (11)7353-1170 (misagaxa@terra.com.br)
Escreve desde os 17 anos, mas nunca publicou. Participou de duas coletâneas de blogueiros, onde escreve há mais de dez anos. Teve participação como autor no livro SÃO PAULO, MINHA CIDADE, editado pela SPTuris, em abril de 2008.
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2ª Menção: Júlio Pepe Barradas (Nasc. 15/08/72
TRABALHO: “IDÉIAS SOBRE O APOCALIPSE”
SHIS QI 21 - Conjunto 01 - casa 11 – Lago Sul
Brasília – DF (Cep 71655 - 210)
Tel. (61) 3366-2641 / (61) 96494636 (pepe@stj.gov.br)
Tem participação e premiação em alguns concursos literários, como “Prêmio SESC “Tributo Terra Brasilis” – na categoria Júri Popular, em Brasília; 1º lugar no concurso “Internacionalizando o jovem escritor”, categoria contos, em Vespasiano, MG; Indicações para os concursos internacionais de contos “Himilce”, em Gènave, Espanha, e “Relatos Cortos Altura”, em Gran Canária, Espanha. Tem também Menção Honrosa no 1º Concurso Literaris, de contos, em Porto Alegre, RS; 1º lugar no XII Concurso de Contos , Crônicas e Poesias ALPAS XXI, de Cruz Alta, ainda no RS, bem como 3º lugar no IV Festival de Contos, Crônicas e Poesias, de Santa Lúcia, SP.
Agora, vamos ao texto que me deu a chance de um 2º. Lugar tão honroso:
O PONTO FINAL
Mauro, sentado em sua poltrona habitual, onde permanecia por varias voltas do relógio, todos os santos dias, aconchegado em uma manta de lã que lhe ajudava a combater o frio daquela manhã, olhava de forma indireta a figura de Rita, sua filha mais velha e atual hospedeira.
Estava no segundo mês da hospedagem trimestral em que se transformara sua existência, A cada 3 meses, trocava de endereço. Ia para a casa de outro dos seus 4 filhos.
Assim ninguém chegava a se estressar com a sua figura e com suas rabugices.
Fora um acordo feito há algum tempo e que até aquele momento apresentara ótimos resultados. Pelo menos, aparentemente.
Enquanto assistia Rita a se locomover pelos diversos ambientes da casa, limpando aqui, recolhendo outra coisa acolá, Mauro começou a avaliar sua vida atual.
Era meio insípida, não tinha mais as emoções de outrora. A comida, sempre muito simples e sem muito tempero não lhe ensejava o prazer de se alimentar, e se propusesse um prato especial, daqueles de outrora, cheios de sabor, era de imediato criticado pelo filho hospedeiro: - Você está louco pai? Quer morrer?
Inibido ele se calava.
Bebida era água de filtro sem gelo. Se pedisse para que ela viesse temperada com um pouco de água gelada novamente ouvia: - Se esqueceu da gripe do ano passado? Quer voltar para o hospital? Pai, não me arrume mais problemas dos que eu já tenho.
Ele tomava a água em pequenos goles e se calava.
Quando em casa, os netos resolviam ouvir musica. Musica? Não, aquilo não era musica era um amontoado de barulhos estranhos, um sem parar de tum tum tuns que lhe invadiam cabeça adentro e iam se alojar, sem dó nem piedade, no centro do cérebro.
Se por acaso pedisse para que eles pusessem uma musica mais suave, quem sabe um Nelson Gonçalves para não ir mais lá atrás e pedir um Carlos Galhardo ou um Orlando Silva, eles em ostensiva gargalhada diziam que não eram guardiões de museu. Mandavam ele ficar quietinho ou, então, ir para o quarto dormir. Dormir? Como dormir com aquela barulheira infernal?
Podia palpitar em qualquer coisa, sobre qualquer assunto, mas não seria nem ouvido e, se ouvido, sua opinião não seria levada em conta.
- Os tempos agora são outros, meu velho. O senhor não precisa se incomodar com nada, só pense em viver bem, em desfrutar a hospitalidade e o carinho que lhe damos.
Viver? Aquilo lá era vida que se podia viver? Hospitalidade agora era sinônimo de uma pequena cama nos fundos da casa e de uma poltrona velha e ensebada na sala? Carinho era ser chamado de pai, de vô?
Com a sua eterna mania de pensar, Mauro começou certo dia a lembrar-se do passado, lembrar de quando seus hospedeiros trimestrais eram ainda crianças.
Lembrou-se que por um acordo tácito com sua esposa e mãe de seus filhos, ficara definido que ela seria a boazinha, a mãe salvadora perante os filhos. Ele, por sua vez, seria o mão de ferro.
Alguém teria mesmo de endurecer a vida das crianças e prepará-las para o futuro.
Lembrou-se que na ocasião do acordo ainda dissera, plagiando um tal de Guevara “Hay que endurecer. Pero sin perder la ternura. Jamas”.
E como acordado estava, ele tratou de fazer sua parte. Era o primeiro a dizer não, o primeiro a cobrar atitudes, o primeiro a brigar. Lógico, depois, convencido pela santa mãezinha, acedia, concordava.
Porém, nunca, em toda a sua existência deixou de dar atenção e carinho a cada um dos filhos. Fez de sua existência um emaranhado de problemas para poder lhes dar boa casa, boa comida, boa educação, estudos efetivos. Atendeu aos seus mais comezinhos desejos. Comprou-lhes sempre do bom e do melhor.
Mais tarde, com o passar dos anos, já adultos, se alinhou a eles e os abraçou sem precisar mais ser o “durão”. Foi, então, muito cobrado.
Suas posições no passado foram criticadas, renegadas. Nenhuma explicação que viesse a ser dada foi efetivamente aceita.
Cicatrizes profundas haviam se enraizado naqueles seres que eram pedacinhos de seu próprio ser.
Os tempos correram céleres e, quando se viu velho e incapacitado de se cuidar pessoalmente, fora obrigado a aceitar o que sempre sonhara não ter precisão.
A ajuda dos filhos se fez necessária.
Então, agora, ele vivia aquela trimestral existência. A cada ano que passava ele mudava quatro vezes de endereço, mas só mesmo de endereço, pois o tratamento era sempre muito parecido.
Na verdade eles não o aceitavam, apenas o suportavam.
Cônscio da situação ele, como fazia a todos os momentos do dia, pedia com fervor para que Deus, na sua bondade, se lembrasse dele e o levasse para o outro lado.
Só assim, pensava, ele poderia ver-se livre do revide que os filhos lhe faziam e, mais uma vez, pela ultima vez, poderia atender ao desejo de todos eles o de ficarem livres daquele ônus pesado e sem nenhum retorno, o pai..
Um dia Deus lhe ouviu e ele partiu!
E ainda, no decorrer das exéquias, meio querendo continuar neste plano, Mauro buscou entre os presentes, os filhos amados.
Achou primeiro a Rita que sentada numa cadeira do velório, enxugava algumas lagrimas que num grande esforço rolaram por suas faces e dizia: - Mas ele estava tão bem, ainda ontem ele pediu uma sopa de feijão, nas achei que seria muito forte e fiz um caldo de carne com arroz. Ele bateu dois pratos e se eu me propusesse a lhe dar mais um prato ele, tão guloso era, teria aceitado.
Caldo de carne? Foi é caldo de osso com arroz do dia anterior. quis gritar Mauro, mas não conseguiu,
Rosira, sua filha do meio, na área externa do velório, fumava um cigarro
Rosa e Álvaro, os dois filhos mais novos, estavam na rua e narravam a dois outros ouvintes suas aventuras nas baladas mais recentes, sem mostrarem qualquer tipo de consideração com o corpo do pai que jazia, ainda, na câmara-ardente.
Pronto, foram essas cenas o ponto final na resistência de Mauro. Ele, capitulando, fechou os olhos e buscou encontrara a luz da eternidade. `
Era o ponto final.
Quero, aqui, agradecer todas mensagens de parabenização que estoiu recebendo desde sábado ultimo.
Inclusive, agradecer a minha comadre e parceira querida Beti Tim que em Rosa Choque me fez uma grande e enocionante homenagem.
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