9.11.08

ADOÇÃO

Esta postagem acontece por participação na blogagem coletiva idealizada pela Georgia (Saia Justa) e o Dácio (Chega mais) para o tema ADOÇÃO. Ela está baseada em fatos reais e foi escrita com as tintas do coração.
ADOÇÃO = CARMA? É preciso, claro, primeiro conhecer os fatos para concluir com certeza sobre o título. Assim sendo, sem maiores preâmbulos, vamos aos fatos: Ano de 1963: Dona Tereza (minha saudosa mãe) com 2 filhos já bem criados, ainda se ressente da perda de uma filha que foi abortada. Lembra-se, sempre, de uma decisão tomada quando do ocorrido, se Deus permitisse, adotaria uma menina. Os anos haviam passado e a decisão, por uma série de motivos, era sempre adiada. Neste ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, Dona Tereza consegue contato com um sacerdote católico que se dedicava a promover benefícios às mães-solteiras e outros que tais. Por volta do mês de Julho, foi informada que uma moça, com quem ela nunca teria contato, estava grávida de uma menina e, por falta de condições financeiras e familiares, tinha concluído que daria a filha em adoção tão logo ela viesse à luz e, depois, voltaria para seu local de origem. Todos os acertos foram alinhavados e a família Chammas passou a aguardar com total ansiedade o nascimento da pequerrucha. Foi uma gestação familiar, se assim posso denominar, onde o Sr. Alfredo, a Da. Tereza, eu, o Antonio Carlos meu irmão, meus primos Roberto e Sonia (na época, órfãos e continuando a morar conosco), minha única tia por parte de pai a Zazá e seu esposo o João e todos os outros agregados se consideravam pai e mãe da esperada menina. Ano de 1964: Dia 29 de janeiro o telefone dos Chammas tilinta e eles são avisados que a tão esperada menina nascera. Era perfeita e eles deveriam se preparar para ir buscá-la na maternidade no dia seguinte. Na data aprazada, fomos para lá minha mãe e eu. A Maternidade, cujo nome não me recordo, ficava no início da Rua Voluntários da Pátria, em Santana. Ali chegando, fomos recebidos por um representante do sacerdote que já havia tomado todas as providências e nos entregou o tão esperado bebe, enrolado numa manta simplesinha. Não tivemos qualquer contato com a mãe biológica e nunca soubemos seu nome ou endereço. Junto com a criança, nos foi entregue uma declaração com os dados para que providenciássemos os registros legais, o que foi feito de imediato constando como pais naturais o Sr. Alfredo e a Da. Tereza. Ludibriavam-se assim as determinações legais e toda a burocracia envolvida. A menina cresceu forte, linda e totalmente ignorante de sua real origem. O carinho com que era cercada, as atenções que recebia, a inteligência largamente comprovada, fazia daquela menina um sonho transformado em realidade. Um dia, nuvens negras começaram a toldar o lar dos Chammas. Ameaças de contar a verdadeira origem daquela princesinha surgiram e foram pretensamente afastadas. Como diz o ditado “a mentira tem perna curta”, um dia essa menina soube por terceiros sua verdadeira história. O choque de saber-se filha adotiva não foi grande, grande foi o choque de saber que os pais, irmãos e parentes próximos, em quem ela sempre confiara, a haviam enganado. Essa constatação, por mais que ela tivesse tentado entender, marcou muito no seu âmago. Um dia, essa menina, sempre querida e cuidada, instruída, cônscia dos problemas do mundo e da maldade dos homens, cai em tentação e, da mesma forma que a mãe biológica, engravida, ainda na solteirice de sua adolescência. A família, consciente do fato, lhe dá todo o apoio. Eu, seu irmão, com 24 anos mais velho do que ela, lhe dou total guarida e lhe prometo tudo de melhor durante a gravidez e depois dela, infinitamente. O cérebro humano é bastante enigmático, sabe-se lá o que e como toda aquela situação se apresentou no intelecto daquela menina-moça. A princípio, ela aceitou a situação e trouxe à luz um lindo e forte garoto. Depois, desandou a fazer bobagens, a viver uma vida para a qual não havia sido preparada. O filho, inocente, passou a ser relegado e, um dia, ainda morando em minha casa, ela saiu para comprar pão e não mais voltou. O filho havia ficado no berço e junto a ele um bilhete em que dizia não estar mais suportando a situação e nos entregava o garoto da mesma forma que a mãe a tinha entregado. A principio tentei demove-la da decisão. Percebendo, com o passar do tempo que não poderia alterar a situação, decidi que adotaria o garoto, mas o faria dentro das formas legais. Foi o que fiz, junto com ela, meus pais e minha esposa, perante o juiz, regularizamos toda a situação e o menino passou a ser nosso filho (meu e de minha esposa). Para não incorrer no mesmo erro de meus pais, desde a mais tenra idade fui mostrando a esse menino que ele, mesmo não tendo saído da barriga de sua mãe, era tão ou mais filho nosso do que suas irmãs, uma vez que ele nos havia sido oferecido por Deus e por nós escolhido. Surpreso, percebi que ele, por mais tentativas nossas em discutir ou conversar sobre a sua situação de filho adotivo, ele se recusava, peremptoriamente, a qualquer tipo de abordagem ao tema. Preocupados, depois de um pouco mais velho, o levamos a uma psicóloga infanto-juvenil que, depois de várias sessões, concluiu que ele era perfeitamente normal, que nos considerava realmente como seus verdadeiros pais, por nos amar de paixão e, simplesmente, por causa desse amor, não pretendia discutir nada a respeito de sua adoção que ele considerava inexistente. Aceitamos a decisão por ele tomada e a paz reina entre nós, até esta data. Graças a Deus, não cometi o mesmo erro pela segunda vez e fui, assim, agraciado com o amor eterno desse filho querido que, mesmo depois de ver o casamento de seus pais terminado, segue nos amando e respeitando sem quaisquer restrições. Por causa desses fatos é que o título desse texto é ADOÇÃO = CARMA? Conclusões e arremates: Este depoimento eu faço para atender a conclamação de meu considerado Dácio e da caríssima Geórgia para uma blogagem coletiva sobre o tema ADOÇÃO. Espero tenha atendido aos anseios dos promotores. A mãe biológica, minha irmã, hoje já voltou a ter contato com ele que nutre por ela apenas o carinho dedicado a uma tia, irmã de seu pai, de quem só há muito pouco tempo teve conhecimento. Finalmente, na madrugada do dia 1º de Janeiro de 2005, por decisão única e exclusiva do meu filho, numa conversa nossa ao redor de umas várias cervejas bem geladas, ele me perguntou sobre detalhes da sua história e origem. Coisa que fiz com todas as minúcias necessárias. Essa conversa terminou quando o sol da manhã chegou para ocupar, com sua claridade, o quintal de minha casa. Um grande e forte abraço foi trocado entre esses dois amigos e eu recebendo, ainda, um beijo carinhoso desse meu filho, já homem feito.