5.11.08

Estamos em novembro, num piscar de olhos o Natal estará batendo em nossas portas. A data festiva tem a propriedade de me tornar nostálgico. Além das raizes religiosas, minhas raizes familiares falam mais alto e me trazem recordações várias. Pinço da memória uma recordação natalina que me traz muita emoção e neste dia vou tentar compartilhar essa emoção com todos que vierem ler meu rabisco. OBRIGADO DOUTOR! Filhos nos dão trabalho antes durante e depois do nascimento, mas o bom é que esses trabalhos passam a ser presentes carinhosos. Minha primeira filha, a Renata, anunciou sua chegada poucos meses depois de termos vivido o trauma de um aborto e todas as suas complicações, inclusive uma curetagem. Devidamente escaldados, resolvemos, eu e minha exposa, cuidar dessa gestação desde os primeiros dias acontece que eu estava desempregado e sem condições financeiras suficientes para enfrentar um pré-natal eficiente, então, que resolvemos apelar para o Pré-Natal do SESC, pois nos haviam recomendado e afirmado que era excelente. Consulta agendada, nos dirigimos para os consultórios do SESC na Rua Florêncio de Abreu no dia e hora aprazados para sermos atendidos pelo Dr. Bianchi (se a memória não me trai, Dr. Giuseppe Bianchi). Cida é chamada e se dirige para o consultório e eu fico na expectativa, na saída ela me avisa que o medico havia pedido um exame de ultra-som, retiramos a guia, e fizemos o tal exame. Resultado nas mãos, voltamos ao Dr. Bianchi e, novamente, fico de fora enquanto ela é examinada. Estranho, porem, pois a certa altura a porta do consultório se abre e eu sou chamado. Entro meio ressabiado, sento-me e o Dr. Bianchi olhando sério para mim diz: - Nossa Cida está com um probleminha, o exame constatou que ela tem um septo vaginal que vai prejudicar bastante essa gestação, mesmo por que seu útero é muito pequeno. Vou aproveitar que o médico que está atendendo no consultório ao lado é meu professor na USP e diretor da Maternidade São Paulo onde estou fazendo especialização e pedir sua opinião sobre o assunto. Imediatamente, solicitou a presença do catedrático que, na frieza de sua sabedoria olhou os exames e , esse feto não tem possibilidade nenhuma de vingar, não percam tempo. Disse e saiu. Olhei bestificado para o Dr. Bianchi que, com toda a calma do mundo nos falou: - Tenham calma. Como já informei estou fazendo especialização e mestrado em Obstetrícia, então, se vocês autorizarem vou fazer minha tese com ele. Me proponho a cuidar pessoalmente da Cida, a custear todos os exames e fizerem necessários e, em, contrapartida só vou exigir que ela obedeça a todas minhas determinações. Garanto que essa criança vai nascer perfeita. Concordam? Concordância obtida, ele começou a dar ordens: -Cida daqui para frente vai ter que obedecer a um descanso absoluto, vai tomar uns comprimidos de Valium e ficar, até os completar 3 meses, totalmente deitada, só vai levantar para suas necessidades fisiológicas e para o banho diário. Este banho deverá ser rápido, sem movimentos bruscos e, se possível assistido por seu marido ou alguma outra pessoa. Antes de mais nada, amanhã você devera estar na Maternidade São Paulo para passar por umas seções de fotos documentais. Por sorte, minha sogra era funcionária da Maternidade São Paulo sempre que possível, todos os exames que a filha teve que fazer. A dedicação desse médico foi plena, total e absoluta. Tanto assim que no dia 18 de Março de 1969 vinha ao mundo uma linda menina que foi batizada como Renata Chammas. Passados 9 meses, na véspera do Natal, com a Renatinha no colo fui buscar minha sogra na Maternidade São Paulo. Estava acontecendo a festa dos funcionários e eu a esperei na porta do auditório. O Diretor da Maternidade, aquele mesmo que havia decretado a inviabilidade de nascimento da minha filha, terminou seu discurso e ao sair do auditório nos viu segurou na mão de minha menina e disse: -Olha que linda e saudável menina. Como é o nome dela? Agradeci e quando me preparava para lembrá-lo do ocorrido, minha sogra percebeu, veio correndo despediu-se do médico e me segurando pelo braço nos levou para fora dizendo: -Vamos filho vamos, deixa o resto pra lá, hoje é Natal! Perdi a oportunidade da desforra, mas, continuei com a companhia da minha filhota, linda e saudável.