3.11.08

Hoje, domingo, resolvo abrir uma caixa de guardados para mostrar algumas fotos antigas para a Sonia. Abre papel daqui, abre pasta dali e, num certo momento encontro um recorte de jornal.O jornal é o Diário Popular (hoje, Diário de São Paulo), a data não sei, sei apenas que foi publicado no inicio de 1998. A coluna é de Jésus Rocha. É uma publicação tão bonita e interessante que resolvi transcrever a coluna na integra. Principalmente por que neste ano se comemora 100 anos da morte do entrevistado. Tenho certeza de que irão apreciar. Lembro ainda que é uma publicação de 1998 mas que poderia, por seu conteúdo, ter sido realizada nos dias atuais. Vamos à tarefa: “Entrevista com Machado de Assis, o maior escritor brasileiro. Suas respostas foram colhidas em seus livros; são, portanto, ipsis-literissimamente autenticas. P – O senhor vê algum motivo de esperança para o Brasil, neste inicio de 98? R – A esperança é própria das espécies fracas, como o homem e o gafanhoto. P – Há quem diga que o otimismo de FHC não passa de desajeitada dissimulação já que... R – A dissimulação é um dever quando a sinceridade é um perigo. P – Muitos consideram o Plano Real um clarão que trouxe tranqüilidade à nossa economia. O que diz? R - Um relâmpago deixa a escuridão mais escura. P - E a falta de dinheiro atual? R – Falta de dinheiro, isso dói; ao menos para quem não é governo. P – O senhor acha que o Brasil tem futuro? R – O presente que se ignora vale o futuro. P – Há liberdade, mas também desemprego, miséria, insegurança, violência... Não é um tanto confuso? R – Liberdade, antes confusa que nenhuma. P – Acha que os políticos são responsáveis por essa liberdade confusa? R – Em política a primeira coisa que se perde é a liberdade.

P - Como o senhor ve o nopsso pais, apesar de tudo?

R – O pais real, esse é bom, revela os melhores instintos, mas o pais oficial, esse é caricato e burlesco. P – Qual a sua opinião sobre o povo? R – O povo ama as coisas que o alegram. P – Acredita em honestidade? R – Se achares três mil réis, leve-os à policia; se achares três mil com tos, leve-os a um banco. P – E no amor, acredita? R – Os homens, que inventaram tanta coisa, inventaram também este sentimento. Para dar justificação moral à união dos sexos, inventou-se o amor, como se inventou o casamento para dar-lhe justificação legal. P – O senhor foi amado? R – Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada mais. P – O que aconselha aos que estão enfrentando a vida? R – Não te irrites se pagarem mal um beneficio; antes cair das nuvens que de um terceiro andar. P – Pra terminar, o que o senhor acha da vida? R – A vida é uma opera bufa com intervalos de musica séria...”

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