Hoje, domingo, resolvo abrir uma caixa de guardados para mostrar algumas fotos antigas para a Sonia.
Abre papel daqui, abre pasta dali e, num certo momento encontro um recorte de jornal.O jornal é o Diário Popular (hoje, Diário de São Paulo), a data não sei, sei apenas que foi publicado no inicio de 1998. A coluna é de Jésus Rocha.
É uma publicação tão bonita e interessante que resolvi transcrever a coluna na integra.
Principalmente por que neste ano se comemora 100 anos da morte do entrevistado. Tenho certeza de que irão apreciar.
Lembro ainda que é uma publicação de 1998 mas que poderia, por seu conteúdo, ter sido realizada nos dias atuais.
Vamos à tarefa:
“Entrevista com Machado de Assis, o maior escritor brasileiro. Suas respostas foram colhidas em seus livros; são, portanto, ipsis-literissimamente autenticas.
P – O senhor vê algum motivo de esperança para o Brasil, neste inicio de 98?
R – A esperança é própria das espécies fracas, como o homem e o gafanhoto.
P – Há quem diga que o otimismo de FHC não passa de desajeitada dissimulação já que...
R – A dissimulação é um dever quando a sinceridade é um perigo.
P – Muitos consideram o Plano Real um clarão que trouxe tranqüilidade à nossa economia. O que diz?
R - Um relâmpago deixa a escuridão mais escura.
P - E a falta de dinheiro atual?
R – Falta de dinheiro, isso dói; ao menos para quem não é governo.
P – O senhor acha que o Brasil tem futuro?
R – O presente que se ignora vale o futuro.
P – Há liberdade, mas também desemprego, miséria, insegurança, violência... Não é um tanto confuso?
R – Liberdade, antes confusa que nenhuma.
P – Acha que os políticos são responsáveis por essa liberdade confusa?
R – Em política a primeira coisa que se perde é a liberdade.
P - Como o senhor ve o nopsso pais, apesar de tudo?
R – O pais real, esse é bom, revela os melhores instintos, mas o pais oficial, esse é caricato e burlesco.
P – Qual a sua opinião sobre o povo?
R – O povo ama as coisas que o alegram.
P – Acredita em honestidade?
R – Se achares três mil réis, leve-os à policia; se achares três mil com tos, leve-os a um banco.
P – E no amor, acredita?
R – Os homens, que inventaram tanta coisa, inventaram também este sentimento. Para dar justificação moral à união dos sexos, inventou-se o amor, como se inventou o casamento para dar-lhe justificação legal.
P – O senhor foi amado?
R – Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada mais.
P – O que aconselha aos que estão enfrentando a vida?
R – Não te irrites se pagarem mal um beneficio; antes cair das nuvens que de um terceiro andar.
P – Pra terminar, o que o senhor acha da vida?
R – A vida é uma opera bufa com intervalos de musica séria...”
Gostaram?
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