NOVAS MEMÓRIAS ANTIGAS
Nestes tempos de repouso total, a única coisa que tem poder e direito de agitar-se é o pensamento e, consequentemente, a memória. Eles, se já não paravam quando o corpo se agitava, agora estão mais rápidos, lépidos e soltos.
Outro dia minha companheira chegou me dando um ultimato: “trata de sarar logo, minha irmão consegui quatro convites para a inauguração da festa de N. S. Achiropitta na barraca principal e, eu quero ir com você!”.
Imaginem meu desespero só de pensar que a oportunidade única poderia ser desperdiçada.
Com os pensamentos absortos na festa a memória tomou conta do espaço e voltei, de pronto, ao passado quando ainda na minha juventude, o ponto de parida para qualquer “programa” nas noites do fim de semana era a quermesse da Igreja.
Lembrei, inclusive, da festa que era realizada antes da inauguração da quermesse, a Procissão de N. S. da Achiropitta. Era algo de maravilhoso. Meus se fecharam e as imaginas voltaram como por encanto.
Comecei a visualizar a saída da Procissão, o povo formando alas para acompanhar a imagem da padroeira do bairro que saia em um andor maravilhosamente ornado com flores e muitas cores para uma peregrinação pelas ruas do meu Bixiga.
O povo do bairro em perfeita miscigenação ítalo-afro-baziliana, com alguns pitacos lusitanos e outros das várias etnias que haviam adotado o bairro como sua pátria, se não ia para as calçadas engrossar as alas da procissão, ficava em casa, assistindo das janelas e dos balões de suas residências a passagem do cortejo.
Para alegrar a Santa, no para-peito das janelas e nas grades dos balcões e varandas, eram estendidas colchas, mantas e toalhas multicoloridas, de vários motivos e acesas velas votivas.
Por deferimento e também por interesse pecuniário (sobrevivência da paróquia), o vigário promovia a parada do andor na frente das casas das famílias mais abastadas que, prestigiadas não mediam esforços e depois das preces e homenagens à Santa, faziam generosos donativos.
Donativo aceito, o cortejo continuava em busca de outras famílias e, lógico, de outros donativos até qu8e o circuito se completasse e a Santa voltasse à sua Paróquia.
Finda a procissão, era promovida a cerimônia final com uma Reza muito concorrida pelos fiéis.
Depois da cerimônia religiosa, o vigário fazia uma pequena preleção agradecendo a todos pelo sucesso da homenagem e convidava o povo a se dirigir à quermesse e se divertir com respeito e consciência.
Aí a festa tinha início. Antigamente as barraquinhas eram montadas nas calçadas da Rua 13 de Maio no quarteirão compreendido entre as Ruas São Vicente e Conselheiro Carrão.
Eram barracas de roleta, pescaria, bolo nas latas, e outras que tais, distribuindo prendas. A maioria das prendas havia sido coletada em doações dos próprios fieis que, na festa endoideciam para ganhar uma delas. Havia a barraca do Leilão onde pratos de iguaria, litros de bebidas mais sofisticadas eram leiloados e chegavam a ser arrematados por valores significativos.
Hoje a quermesse se transformou. Ganhou infra-estrutura, embora ainda ocupe um espaço da Rua 13 de Maio, já tem espaço próprio onde as “mammas” fazem suas massas, suas porpetas, suas bracciolas e servem ao populacho que se empanturra com tais delicias.
Para falar com franqueza, não sei se gosto mais da antiga quermesse ou da festa atual. Sei apenas que sábado próximo irei usufruir do convite que foi conseguido por minha cunhada e voltarão Bixiga depois do susto que tomei.
Aiiiii como eu sofro!!!!!!
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Há 3 anos
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