13.4.08

REALIDADE X FICÇÃO (uma estória de amor)
(qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas poderá ser méra coincidência) Misael alardeava a sua vivencia na boemia sempre que podia. Estava afastado por iniciativa própria, por opção de vida familiar, mas confessava sempre alimentar uma saudade enorme das noitadas, dos bailes, do assedio das boas dançarinas. Um dia, não mais curtindo sua solidão após a dissolução do casamento, que pensava seria eterno, e que já durava mais de 8 anos, abriu mão da exigência de só sair com companhias e, solitário foi em busca diversão. Foi para um Baile! Chegou, comprou seu ingresso e adentrou ao ambiente. Sabia que, por ser estranho ao conjunto, deveria se submeter a algumas exigências, tais como, observar as damas existentes e saber o grau de dançabilidade daquelas que viesse a lhe interessar. Outra exigência era de iniciar um processo de aceitabilidade da sua pessoa com o grupo de freqüentadores mais assíduos no sentido de evitar um processo rejeição que, se viesse ocorrer, seria totalmente desastrosa aos seus planos de retomada aos bailes. Nos dois primeiros bailes, dançou algumas vezes. Percebeu que o tempo de inércia não tinha afetado seus conhecimentos de dança, mas os anos de sua estrada da vida estavam requerendo um maior cuidados, uma com suas juntas e membros inferiores. A cabeça comandava, o corpo tardava a obedecer e quando obedecia, não era com ações perfeitas. Em questões de dança ele sempre fora exigente e meticuloso e essa falta de coordenação imediata estava lhe preocupando, mesmo quando sua razão dizia que era preciso dar tempo ao tempo. Mas ele insistiu, e continuou comparecendo, com uma assiduidade impecável. Lógico que não abriu mão das suas pesquisas. Dentre todas as damas que demonstravam desempenho excelente nas danças, uma em especial lhe chamou a atenção. Para falar a verdade balançou seu coração que já era useiro e vezeiro em não bater, mas em apanhar com muita facilidade. Era um tanto mais nova que ele, irradiava simpatia e alegria, só tinha um predicado ruim, estava comprometida e demonstrava só ter olhos para o parceiro. Conversava com um numero restrito de freqüentadores, mas só dançava com o parceiro e não dava qualquer chance para uma aproximação impetuosa e um convite para dançar. Misael percebeu que, mais uma vez, seu coração havia lhe pregado uma peça, tinha se apegado a um sonho impossível de ser realizado. Desistir da idéia ele só foi desistir depois de uns seis meses de freqüentar o salão, e desistiu por ter certeza de que até aquele momento ela não tinha sequer se apercebido da sua in significante figura. Então, mesmo inconformado, desistiu. Tempos depois a dama de suas inquietações sumiu. Não mais apareceu, nem ela nem o companheiro. De certo modo ele até gostou, assim seria mais fácil tira-la do pensamento. Daquela mulher que quase havia se transformado em obsessão, só restou uma fina e inquietante sensação de decepção e incapacidade. Já se fazia quase dois anos que Misael freqüentava o salão. Sua popularidade havia aumentado e se consolidado. Seus passos de bailarino haviam retornado em quase 80% da forma de uns 30 anos atrás. Ele já se sentia remoçado e desfrutando de condições totalmente favoráveis. Muitas damas faziam questão de, pelo menos, dançar uma seleção de musicas com ele. Era o retorno ao mundo da fantasia. Estava feliz. Um dia, sem mais nem menos, antes do baile iniciar, sentado na cadeira da mesa que lhe era reservada em todos os bailes, ele vê chegar ao topo das escadas de acesso a mulher de seus sonhos e pesadelos. Vinha sozinha, mas irradiava a mesma simpatia de sempre. Começou a cumprimentar os conhecidos e, pasmem, ao passar em frente a sua mesa, parou, cumprimentou uma amiga que estava sentada na mesa a seu lado, virou-se para ele, cumprimentou-o e lhe deu um beijo carinhoso. Aquele homem que se dizia vivido e experiente, só não desabou por força de sua férrea vontade, mas tinha certeza, havia viajado até o infinito e retornado bem mais abobado do que o normal. A esperança, como num passe de mágica, voltou a se aninhar em suas entranhas. Dançou com a dama várias vezes, brincou, “contratou-a” como sua professora particular de dança e, começou a viver uma nova experiência (pelo menos assim pensava). Quando se sentiu, praticamente, capaz de confessar seu amor, e suas intenções, o mundo caiu novamente sobre sua cabeça. Naquela noite a “deusa” que atendia pelo nome de Lili, chega ao salão acompanhada. Seria possível? O que estaria acontecendo? Misael ainda tentou colar os cacos em que seu coração havia se transformado. Tentou se iludir dizendo que era apenas um acompanhante sem maiores conseqüências ou intimidades. Mas qual, depois de algumas semanas onde ele ainda tentou submergir do mar de frustração, chegou o momento de abrir mão da esperança e aceitar a derrota. Mais uma vez, seu coração levava uma tremenda surra, e ele, que já havia sobrevivido ao primeiro romance, não teve forças para se colocar novamente na reserva e aguardar a possibilidade de uma nova investida. Desistiu de viver um grande amor! Mesmo assim, como consolo, disse para si mesmo: - É Misael, bola pra frente, pois a vida continua! E voltou a dançar, já que no seu amor ele tinha dançado mesmo.

5 comentários:

  1. Misael, como eu, como vc, como qq outro ser humano, está sujeito às surpresas do amor. E ainda que a gente se sinta desistindo de amar, o amor nos pega... sem mais nem menos! rs...
    Belo conto, companheiro.
    Um beijo de domingo procê.

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  2. Conto de decepção. Ou de decepções. Mas, de re-encontro: com a dança, com o prazer de se sentir vigoroso nos passos e torneios do salão de baile...
    E amor continua valendo a pena, enquanto permanece como eterna busca...
    Gostei do conto.
    E deixo-lhe beijos, companheiro!
    Dora

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  3. Misael: Quando encontrar outro amor (ele virá, esteja certo) não o deixe escapar. Ame sem medo algum!
    Um abraço Miguel e parabéns pelo texto.

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  4. E não é que o amor nos faz dançar, de forma literal e simbólica, sempre nos pregando algum tipo de peça?

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  5. Amigo Miguel,

    curiosamente, hoje, postei lá um conto que fala sobre a perda da companheira de dança e a busca do amor...

    Abração.

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vamos prosear ou poetar?