11.8.08

O rabisco postado a seguir é fruto dos meus devaneios e foi editado,também, no site do poeta Lima Coelho. Ele vem provar que minha memória, às vezes, tem lampejos e se faz presente de forma correta. EPISODIO BAIANO Sem saber como, ele se viu novamente na praça em que dias atrás episódio havia presenciado um espetáculo inusitado e muito estimulante. Ele era um tanto quanto sisudo. Tinha o semblante de um homem com cinqüenta e poucos anos bem vividos. Não aparentava, por seus trajes, ser um tradicionalista convicto. Vestia um terno desses tecidos leves de agora, de cor cinza clara e uma camisa de cor azul marinho escuro. Não usava gravata. Os acessórios que usava (meias, sapatos e cinto) eram discretos, na cor preta. Correu o olhar por toda a praça, parando, propositalmente, no grupo de baianas que preparavam, com alegria e desvelo, seus quitutes, que logo mais seriam degustados por uma assídua e fiel clientela. Na primeira passada de olhos não encontrou o que procurava, na segunda vez, um tanto mais investigativa, achou. Era ela, tinha certeza. Era ela que dois dias antes havia dado um espetáculo de magia e sinuosidades. Reparou melhor e percebeu que era uma linda e sestrosa negra. Tinha olhos espertos, lábios insinuantes de tanta umidade e brilho, e um corpo, ah um corpo simplesmente correto e tentador. Memorizou então, o aludido episodio que o levara sem perceber, a voltar até lá. Viu o grupo era mais ou menos o mesmo, a baiana estava no centro da roda que se formara pelos demais elementos do grupo de quituteiras. Discutia com uma delas. A discussão foi cada vez mais tomando corpo. E os expectadores vibravam com aquela cena, sem ao menos saber o porquê daquela discussão acirrada. E a multidão se alastrava e as perguntas ficavam sem respostas. Todos ao mesmo tempo queriam saber o porquê daquela desmesurada. Só um bom matemático podia entender o que levou aquelas baianas a entrarem em guerra disputando por um sinal maior. A negra, que já requisitava toda a sua atenção, isolou-se das demais e tomando o centro da roda que se formara iniciou um giro de 360o. sobre o eixo de seu corpo. Esse giro foi cada vez tornando-se mais rápido. A negra girava, as saias rodavam e a rodeavam qual balão iluminado em festa junina. As saias rodavam, rodavam e foram subindo, mostrando por debaixo delas uma calçola branca e rendada. Seus olhos, sem se fecharem viam a cena e por uma força que não sabia de onde vinha, começaram a despir aquela negra, iniciando pela tal calçola e mostrando com toda a sensualidade de duas pernas negras e sinuosas. Eram pernas demasiadamente lindas, canelas finas e bem desenhadas que subiam de forma harmoniosa ate os joelhos, arredondados e simetricamente perfeitos para sustentarem sobre si duas coxas maravilhosamente grandes e aconchegantes que, mercê de suas qualidades, ostentavam, ainda, ao seu final, uma graciosa e bem cuidada coroa de pentelhos negros e encaracolados, que mais pareciam guardiões uniformizados de um vale que abrigava uma deliciosa e rubra catedral de amores e perdições. E ele atônito só observava e se imaginava entrando naquela roda e retira-la de lá, ficava só a indagar será que a briga foi por causa das pernas que calçola ocultava? Ou será que foi por causa de ponto de acarajés? A incógnita ficava no ar. A luta chegava ao final, cansadas do bate boca e puxões de cabelo tentavam se refazer e ele só de cá a espionar. Ansioso aguardava o horário de a sua pretendente encerrar os seus afazeres para que ele pudesse acompanhá-la numa tentativa bastante sutil se aproximar e falar do seu encantamento por ela. Cada passada da formosa baiana era como se o coração dele estivesse escancarando para recebê-la. E ele quando olhava para ela seus olhos insistiam em abandonar o seu corpo como se quisesse pular em seus braços. As batidas aceleravam passo a passo, se imaginava possuindo-a tal era a sensação do seu corpo. O acaso e a persistência também estavam ajudando-o. Sem perceber adiantou as passadas e emparelhou com ela, trocaram olhares maliciosos e se cumprimentaram, prontamente, eles se ofereceu para ajudá-la, com as sacolas pesadas dos quitutes que sobraram. Ela sem contestar não se fez de rogada, aceitou e agradeceu. As perguntas foram demonstrando atitudes. -E aí, está calor não é mesmo? -Sim! Mormaço que abafa e aperta o coração. Aproveitando o ensejo ele a convidou. Que tal algo gelado para aliviar a sede? Ela aceitou, mais do que ninguém, sabia como era importante aquela bebida para relaxar do dia que tivera e do que acontecera. Assunto não faltava, mas o desejo dele era passar por cima das histórias e se preparava para dar o seu último lance para ganhar aquele coração. Estava ficando impaciente querendo aquela baiana a qualquer custo. Abriu os olhos que, sem motivos, tinham ficado cerrados por tempo inimaginável. Caiu na realidade, acabava de sair de uma visão , de um transe abrasador... Os dias se passaram e a baiana continuava arrancar suspiros daquele homem misterioso e de outros tantos que por ela passasse e assim seguia com seus feitiços na conquista dos corações desamparados.

11 comentários:

  1. Miguel,
    a vida é isso, um mesclar de sonho e realidade. Muitos sonhos invadem a realidade, e muitas realidades são sobreviventes dos sonhos!
    Viver, sonhar, buscar, acreditar, amar!!
    Bjãozinho.

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  2. Eu acho que li o texto no blog antigo, não foi??? Migo, minha memória tem me traído...rsrs

    Paixão, erotismo, sensualidade, sonhos, realidades, devaneios, tudo isso compõem o belíssimo texto, que vc sabe fazer tão bem.

    Tomara que o Homem, nunca esqueça que sonhar é possível, mas que a realidade, é impossível viver sem ela.
    Beijos e carinho, Miguelito!

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  3. Miguelito.

    Muito boa a sua prosa de hj, mesclar realidade e sonho c tanta maestria é para poucos. Adorei a sutileza de cd detalhe, viajei de olhos abertos para cd cena q foi se revelando surpreendentemente intensa.

    Beijos Poéticos.
    ;**

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  4. Miguel,
    deliciosa a sua narrativa! Fui lendo, lendo, saboreando as palavras, ansiosa pra saber o desenlace da história. E... como sempre vc surpreende. A magia te acompanha, tua parceira de todas as horas. Beijos saborosos

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  5. Oi, voltei,
    esqueci de dizer que vc é o meu blogueiro favorito! Sou tua fãzona! beijos de novo

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  6. O que a baiana tem não posso dizer, mas posso dizer que esta brejeirice sensual do seu conto dá uma vontade de ir para uma rede...rsssss...

    Beijo querido

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  7. Eita, Miguel! Velho amigo!

    Depois de inventar o "humorótico" ninguém mais te segura! Esse sonho tão bem estruturado, com a pitada certa de humor e o componente erótico da deliciosa baiana é um gostoso descanso para os olhos e a mente.

    Grande abraço deste amigo velho.

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  8. Miguel,

    Mesclar realidade e sonhos talvez seja a receita de que todos necessitamos para viver sem medo de ser feliz!

    Ah, Tem um presente pra vc no Ponto!

    E estive observando, meu sobrenome está trocado ali nos seus links.. é Karine Leão...risos

    Beijo Karinhoso,

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  9. Miguelito de minhalma, vc é ótimo pra descrever as coisas: não consegui evitar de imaginar a pentelhada da moça kkkkkkkkkkkkkkkk :-| Mas eu queria um final diferente, ó: ou um final feliz ou a negraça dando um pontapé na bunda do gajo. Ah, sei lá, tô meio rebelde... rs
    Bjo, querido Miguelito! :-D

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  10. Eita! Que me lembrei do mestre Jorge Amado! Que texto saboroso, "deleitoso", cheio de sensualismo e calor! Muito bem escrito! Miguel, você é genial nas descrições dos dotes femininos!
    Eu amei essa escrita...
    Beijos estalados!
    Dora

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  11. Hummmmmmm,
    você e seu jeito especial de entrar nas nuances do feminino. Gosto tanto de vir aqui que até coloquei um pedacinho desse espaço lá no meu florescer. Espero que goste.
    Beijos

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vamos prosear ou poetar?