15.5.09

MEMÓRIAS DE UM PREJUIZO 1968, a minha aliança já estava sendo usada na mão esquerda e o casal não mais morava no quarto da casa da minha mãe e sogra da minha esposa. Já estávamos residindo em um apartamento na Rua Maria José.
De resto as coisas continuavam as mesmas, eu sem emprego, vivendo de “bicos” e de um cachê como ator do Teatro Infantil de Nydia Licia, e a Da. Cida, emergindo de um aborto involuntário e, claro. Prestes a engravidar novamente.
Um dia, me levantei como de costume, e me aprontei para sair e batalhar por um emprego estável. Depois do banho separei o terno preto (terno do casório, em tropical inglês), a camisa branca, também do casório (volta ao mundo) e a gravata que combinava com a indumentária. Sapatos e meias preta também foram separados.
Devidamente vestido, sai de casa com a certeza de que na minha volta eu já estaria empregado.
Batalhei o dia inteiro, fiz diversas entrevistas e, pronto, um delas me pareceu a premiada. Os entrevistadores ficaram impressionados comigo e eu com eles.
Prometeram uma resposta definitiva em 24 horas pedindo que eu entrasse em contato no dia seguinte por telefone.
Cheguei em casa eufórico, beijei Da. Cida, disse a ela que estava praticamente empregado.
Depois de extravasar minha euforia, voltando ao normal, perguntei a ela o que iríamos jantar.
Um tanto quando estressada, ela me respondeu que por falta de grana, não havia saído para comprar nada e, assim, a janta do dia era “nada”.
Tentei me conformar, mas a fome de um dia inteiro corrido e sem qualquer alimento não deixou.
Na época, as casas de frango giratório para viagem eram novidades. Poucas haviam em Sampa, e uma delas estava recém inaugurada no Paraíso, quase em frente a Loja Sears, e já haviam de informado que era de excelente qualidade.
Não tive duvidas, falei para a dona da pensão, nada de pizza, hoje iremos comer um acepipe. Tirei a gravata e o paletó e sai, caminhando, até a loja do “Frango Americano”.
O trajeto até lá foi rápido, Rua Rui Barbosa, Rua Treze de Maio e pronto, já havia chegado.
Fiz a encomenda, um frango destrinchado, farofa e fritas.
Tudo pronto e embalado em sacolas de plástico. Paguei e sai de sacola nas mãos.
No intuito de não permitir que a comida esfriasse, acenei para um táxi, embarquei, dei o endereço do destino e me acomodei no banco traseiro, colocando a sacola no colo.
Pouco tempo depois, senti que o calo dos alimentos em cima da minha perna estava aumentando, mas como já estávamos chegando não me abalei muito.
Chegando em frente de casa, paguei o táxi e subi as escadas, antes de abrir a porta da frente, senti que alguma coisa caia ao chão, olhei e era o saquinho de farofa que havia passado pelo buraco que o calor do frango havia feito na sacola.
Percebi, então, que não havia sido só o saquinho de farofa que havia ganhado a liberdade por aquele rombo. A gordura do frango também havia escapado e se espalhara por toda a minha calça. Imaginem, gordura quente misturada a plástico derretido em cima de uma calça de tropical inglês....
Uma mancha enorme se alojou na frente das calças impedido-me de usá-las novamente.
Perdi as calças do casório, só restaram o paletó e a camisa. Grande prejuízo o frango me proporcionou.
Ah! O emprego também foi por água abaixo!