22.5.10


CRENÇA E DESCRENÇA




Nasci em 1940, cresci no seio de uma família de descendência árabe e tradicionalmente católica, apostólica romana. Nos dogmas religiosos fui criado.
Meus estudos, iniciados por uma alfabetização caseira, tiveram início em uma escola de freiras, Colégio Santa Monica, Nesse estabelecimento educacional eu fiz meu Curso Primário (na nomenclatura atual ensino fundamental).
Alem das matérias básicas tais como Português, Matemática, Geografia, Historia do Brasil e Ciências, tive, ainda, aulas de Religião onde adentrei pelos caminhos da religião com maior profundidade. Fiz o catecismo e, lógico, como consequência, a 1ª. Comunhão.
Através das freiras, aprendi a ajudar na celebração das Missas e daí, com a indicação delas e a minha amizade com o João Batista da Costa Menezes (Juca), que era sobrinho do sampaulino Monsenhor Bastos, passei a integrar o grupo de Coroinhas da Igreja de Nossa Senhora da Consolação.
Assim fui crescendo, cada vez mais envolvido com os princípios e as práticas religiosas. Participei da Cruzada Infantil e fui, também, Congregado Mariano.
Em certo momento da minha existência, já vencidas as etapas de estudo no Curso de Admissão ao Ginásio, comecei a desenvolver pensamentos próprios. As “verdades” que me foram transmitidas no círculo religioso começaram a fustigar minha inteligência.
Duvidas surgiam e, obediente, eu questionava meus mentores religiosos, principalmente o reverendíssimo Monsenhor. Estes, por sua vez, não se dispunham em esclarecer as questões por mim formuladas.
Certa vez, monsenhor Bastos ao ser por mim arguido sobre um dogma religioso respondeu ‘-Moleque, as verdades da Igreja Católica são milenares e transmitidas por todas as gerações. Não são passíveis de serem colocadas em dúvida. O bom católico não duvida, acredita e pronto!’
Essa resposta, ao inverso de colocar um ponto final nas minhas elucubrações, aumentou mais as caraminholas em minha cachola.
Comecei pensar racionalmente e não encontrei explicações plausíveis para justificar a maioria das crenças católicas que me tinham sido apresentadas.
Estes acontecimentos foram me afastando da Igreja Católica e me fazendo percorrer uma longa estrada de buscas e decepções.
Conclui certo dia, que a divindade criadora, da qual eu não tinha como duvidar, era Una e todas as religiões eram ramos de uma mesma árvore e tais ramos, por terem sido criados pelo homem, eram falhos e não muito esclarecedores.
Conclui, também, que a religião que me havia abrigado desde tenra idade, por falha dos humanos que a dirigiam, estava em plena decadência, que ela precisava, com toda urgência, sair do ovo em que se escondera e mudar, radicalmente, a totalidade de sua estrutura para, então, sobreviver e voltar a ser aceita e respeitada por seus seguidores.
Hoje, em comprovação às minhas antigas deduções, vemos que a Igreja Católica, outrora tão orgulhosa do esplendor que a circundava, do ouro que a mantinha, das mentiras que a sustentavam, começou a purgar. A podridão que se escondia nos meandros escuros de seus dogmas começava a ser descoberta, comentada e a fé, outrora tão obediente, estava dando lugar à vergonha e alimentando, cada vez mais, a descrença.
Pronto. Era a falência.
A massa falida dessa religião está aí, jogada aos ventos da indignidade.
Quero crer que, se alguns poucos ministrantes ainda dignos de respeito (?) tomarem o leme da embarcação ora ao leu e mudarem toda a sua estrutura, abolindo a mentira, a falsa moralidade, a imbecialidade desse celibatarismo ignóbil e desumano, ainda sobrarão os fundamentos e a Igreja poderá sobreviver.
Que Deus se apiede dessa instituição e lhe de a oportunidade de se salvar.